segunda-feira, outubro 20, 2008

Nem sei bem quê



































Correntes de ar dum passado misterioso e nostálgico entrepõe-se entre mim e o nível contíguo a este e vergo-me sobre a pressão de memórias para as quais não encontro solução nem resolução, e lapidam-me a sanidade, lapidam e lapidam, destroem a complexa estrutura que tantos anos levei a criar para poder andar de um lado para o outro sem que o mundo reparasse na existência de um alguém que se identifica comigo e que é anulado por mim mesmo. Vivo imerso no lago gélido do reflexo dum espelho opaco que separa o meu reino dos demais reinos das pessoas, que frequentemente se entrecruzam e fundem-se em reinos únicos e gigantes com reis artificiais e doentes que anseiam pela destruição total dos seus súbditos única e simplesmente porque este ousaram desejar o alargamento irrisório e pouco credível das suas possessões e isso possui-me duma vontade indizível de morrer e matar com a morte, subir aos meandros do inferno suspenso e cair, a velocidade alucinantes, enquanto agarro anjos e os obrigo a vergarem-se ao meu capricho, ao meu desejo desolador, e tudo fica pincelado com os tons cinzentos e pardacentos da pintura da morte, dessa tão longínqua e inatingível companheira que me envia leves e doces lembranças envoltas em vento fresco da manhã. Lembro-me dela a eclodir silenciosamente do ovo barulhento do sofrimento enquanto gigantes se alimentavam alarvemente de vazio e riam e riam e riam e os barulhos infernais e silenciosos penetravam levemente no meu ouvido e o cérebro aquecia, aquecia, como a chama imortal do inferno que cresce e vive das almas sumidas que chamam por mim. E a marcha solitária dos caminhantes mudos produz uma bela melodia que ninguém quer ouvir, porque o som que eles libertam está imbuído duma verdade que todos recusam reconhecer e é essa verdade que magoa e fere e faz sangrar e quero elevar-me de sangue até que os monstros se esfumem e vazem para o mar das sombras malditas que termina no fim do meu juízo, naquele lugar lindo e florido onde Deus e o Messias aguardam por mim para me iniciarem na grande contenda. Vou, um pouco no escuro e sem saber se coloco os pés em terra firme ou se caminho em palavras soltas que não encontram conexão lógica entre elas e não edificam o caminho mágico que os grandes vultos do pensamento superior ousaram atravessar. Pena, dá-me pena ver-me a bater em todas as paredes e muros e também nos tectos e os sopros quentes do inferno em saudações para o Cristo que foi negado no dia em que o mundo iniciou o caminho da promessa antiga e tenho pena das pedras que calco, pena da água que evapora e devanea no céu sem manifestar pesar pela sua condição aborrecida de perpetua procura para a queda, e caiu juntamente com ela e com as veias jugulares que a gládio divina rasgou em punição, como uma crise insondável que começa no términos daquele maldito passado que ascende em mim e carrega os anjos no seu dorso e a veste branca mancha-se de sangue quando pousada em mim. Pobres anjos que cantam músicas infernais para alegrar a nossa passagem para o mar das águas turvas, enquanto os demónios dedilham a harpa e tocam flauta e as melodias são tão lindas e a roçar o divino que o próprio Deus abandona a carruagem de luz para agradecer aos demónios pelo presente bendito que souberam, com toda a arte e sentimento, conceber. Será que ainda tenho tempo para escolher uma carruagem de bênção pintada? Não vou a tempo e o tempo não vai comigo. Somos incompatíveis e jamais teremos desfechos viáveis para a resolução das nossas amargas desavenças e permaneceremos eternamente ligados num circuito de carruagem com destino aos lugares do divino e nesse caminho conjunto trocaremos olhares de pesar, no dia em que a morte cantar para mim.
Canta para mim minha musa, grita o meu nome e vamos fugir os dois. Naquele sono perpétuo seremos um só, para o incessante, e dele crescerão folhas impressas com listas de cores e a cromática ferirá os olhos cujas íris não tiverem cor e a cor repudiará as íris que quiserem ter cor. É esse o destino dos nossos olhares entrecruzados, tempo, que na morte deixaram de o ser e eu vencer-te-ei porque jamais farás parte dos meus dilemas. E assim me fico e assim quero fica, sem pernas nem braços, sem asas e penas que produzam melodias obscuras e lagos gélidos. Não, não. Só há negação no meu espírito é tudo tão confuso, tudo tão inversamente inverso, atrozmente atroz. ……