Ando despojado de empenho de viver, a fraqueza é dona e senhora do meu corpo. Ando a leste do paraíso, a meio caminho da apatia, o sol põe-se a poente e não volta a nascer, ando sumido no medo incompreensível de cair numa rotina maldita e sofro por sofrer de mim mesmo, sem viabilizar as razões do meu medo ou o medo de ser de mim. A chuva continua a cair e o meu querer de deambular pelo mundo dos outros resume-se a uma necessidade de estar constantemente deitado, de mente e sentimentos vazios, voltado para o lado oco da minha própria existência, onde nem eu nem as imagens erradas da minha imaginação chegam a um acordo. Vivo assim, envolto na nostalgia das coisas que não vivi, carente dos sentimentos que nunca senti, à espera que a vida me oferte aquilo que nunca pedi. É mau demais, mas, de qualquer maneira, só consigo reconhecer o pior, como se ele e eu fossemos um só, destinados a caminhar de mãos dadas por caminhos em que o negro reveste as três dimensões que o meu físico pode sentir e às vezes tocar, já nem sei, nem sei sequer se são somente três as dimensões que o meu todo alcança. Isso é irrelevante. É tudo negro na mesma. Sou um cadáver vivo jogado a uma desinteressante sequência dos mesmos acontecimentos por si só desinteressantes, acamado no leito das agonias que não se manifestam de maneira a conseguir uma alforria e regressarem ao solo, ao profundo, ao centro da terra, ao local calmo e silencioso que serve de baú às agonias que surgem sem explicação. Dá-me um latejar no peito e na garganta, altera-se-me o ritmo cardíaco enquanto o coração conduz a orquestra duma morte prematura, talvez demasiado tardia tendo em conta o que o destino me reservou, mas continuo a fintar a morte sem saber muito bem o porquê ou o como, estranhando o momento em que adquiri esta arte curiosa, e a vida continua impávida e serena e eu embebido na minha agonia, fraqueza e nenhuma intenção de viver. Salvem-se, pelo menos, as melancolias e as nuvens, o cinzento, a densa neblina, as paredes húmidas do prédios e das estradas, o som continuo de água a correr, os limpa pára brisas dos carros e a insuportável corneta da morte, porque eu da vida já não espero mais nada… Resta-me a rotina, a dolorosa rotina de uma vida com paragem no suicídio, no suicídio dos sentimentos e das confusões, dos porquês e da vitimização, à espera que o meu corpo caia pesadamente no leito que me acomodará para o eternamente. Vivo para morrer, é isso.
sexta-feira, janeiro 23, 2009
sexta-feira, janeiro 09, 2009
Por razões de força maior, o trabalho deste cronista do reino continua neste sítio Sem Sura . Não temam, ele tem a capacidade mágica de se desdobrar e rapidamente presentear-vos-á com novas e fascinantes viagem ao mundo obscuro do seu ID.
quinta-feira, janeiro 01, 2009
Uma mudança indesejada que abre a passagem para um mundo abominável, serpentes que serpenteiam ao som da ledice de substâncias artificiais e garrafas que são projectadas para o chão com a raiva da incerteza do e depois, e o amanhã que seja como há-de ser, porque o agora não raciocina, não reflecte, não visualiza a Máquina destruidora e violenta que se aproxima dos corpos embriagados na mente e na visão pela mentira e pela alienação dos vivos. O sonido violento dos engenhos que destroem acompanham-me e ao objecto inanimado que dá luz a uma última dança. A dança da vida, a dança da morte, que diferença faz? Dançamos apenas para que o triturar penoso da máquina seja mosqueado de torturas mais agradáveis e a dor, essa certeza que até os insensíveis aninha, se dissipe nos passos coordenados do momento agitado do corpo com vida e do corpo inanimado. Sejam breves as dores e o esquecimento e no fundo escuro dum céu irreal permaneçamos para a eternidade.
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