Não sei se tenho frio ou calor. Nem sei sequer se existo para além das oscilações de temperatura que se fazem sentir aqui, no gelo, mas, no entanto, estou tomado duma certeza com a qual aprendi e continuo na aprendizagem de viver. O frio é a temperatura definitiva da minha alma. Teço fogueiras imaginárias dentro da minha imaginação, as quais são abundantemente regadas de combustíveis impossíveis, realizo diligências por lugares solarengos na imensidão do equador da minha vontade e o resultado é sempre o mesmo, frio, um resultado que não trás nada de novo à situação que condiciona a demanda e afundo-me, afunda-me. Era bom saber que havia escondida no mundo do reais a solução para a rigidez mórbida que deturpa a alma, que apesar de acompanhada por uma imaginação efervescente e activa não desvenda as forças fundamentais para que a fricção de sentimentos despolete numa chama, num simples e quente fogo que alteraria a temperatura que há em mim e dentro de mim. Toda a gente grita que no mundo a única coisa que permanece para além do ódio e dos sentimentos pestilentos da alma são a fraternidade e o conforto que sentimos quando vivemos os dias das nossas vidas com os nossos iguais, e isso é a verdade que me fere por ser a maior mentira que consigo e quero conceber. A distância dos meus pares, um pouco à semelhança do lobo que, por fraqueza, perdeu o lugar na alcateia e vagueia, só e dolente, numa demanda pela sobrevivência, é a caldeira do calor gelado que orienta a globalidade do meu ser, do despertar desalinhado, ao deitar aterrorizado. Que vida fui escolher, ou talvez tenha sido escolhida por mim para mim, que nem sequer consigo conceptualizar as temperaturas da forma que os outros as concebem, e aproveitam, e jubilam por ser tudo um inverso do meu desgosto setentrional. Sou eu é de mim a tundra das almas, sou eu e é de mim a taiga dos desolados. A minha débil alma emigrou para as bandas do norte e o meu corpo permanece no seu (in)feliz recanto onde são glorificados aqueles cuja a alma emana uma luz e um calor interior assinaláveis e lega à desgraça os filhos malditos que essa luz e esse calor negligentemente conceberam.
quarta-feira, dezembro 31, 2008
segunda-feira, dezembro 15, 2008
Lembro o dia em que o buraco desmoronou como lembrarei o dia em que o buraco que cavei voltou a fechar-se, e nesta sucessão de lembranças acordo para a verdade daquilo a que, com contemplações e falas meigas, me sujeitei sem clamor nem alteração. O ritmo de trabalho assemelha-se a um caminhar desajeitado de um aleijado, que por não saber andar, preferiu atirar-se a um rio e pelas águas sujas e malignas ser conduzido, sem contudo obliterar o caminho que, com dificuldade, foi traçando com o arrastar lento e pesado do seu corpo morto, que é morto desde o dia em que em lágrimas despertou para a vida. Nesse caminho há tempestades assustadoras e raios que se revoltam em variadíssimas direcções, e no fundo de um vale encoberto pela luminosidade de uma estrela que não é feita da mesma matéria de que são feitas as estrelas a que vulgarmente costumamos associar a luz que por elas é emitida, que no fundo pouco ou nada representam quando comparadas com a cerração a que o sol sujeita aqueles que da noite fazem dia e do dia um sarcófago para uma mentira, abre-se a possibilidade de deixar de cavar para cair num buraco feito por outros iguais aos outros, mas senhores de uma outra cobardia, a cobardia de descobrir se do lado de lá há alegria.
Tempos mortos estes em que a chuva cai em direcções incertas sobre uns ombros que carregaram fardos invisíveis, mas estranhamente penosos, tão enfadonhos quanto a monotonia pode ser enfadonha e o fado que uma estrela que deveria resplandecer pode doar-nos a nós, amantes duma obscuridade que não concebe outra situação que não a luz, mesmo quando das paredes escuras dum céu carimbado de estrelas se forma uma luz que não serve para iluminar. É isso que me entristece e me incentiva a continuar no cavar para uma posteridade na qual o reconhecimento será dado aos montes de areia que se formam aqui e ali e que em nada contribuem ou contribuirão para o reacender da chama das estrelas caprichosas e bandidas que acenam alarvemente, sem contudo atribuir aquilo que, por palavras mais sinceras, poderia representar um rasgo de felicidade. E a tristeza afunda-se em nós e o barco que é a nossa alma, que vigorosa - como o barco a que correspondia - navegava sobre as vagas de um sentimento soturno e desconhecido, perde o barqueiro lúcido que sabia que destino poderia hipoteticamente agradar à sua tripulação, tristes bandidos duma noite sem luz que, na amargura de uma amanhã que será exactamente igual ao amanhã que foi ontem, continuam na árdua tarefa de cavar o buraco que se abriu no dia em que, com lágrimas e pranto, despertaram para a vida. Deste lugar tolhido pelos antepassados dos homens que acreditavam na beleza de um futuro em que as estrelas não só iluminariam os caminhos do dia, mas também iluminariam os caminhos da noite, não quero recordação que sobreviva ao dia em que o corpo regressar ao buraco fechado que assim está na certeza de que esse corpo ao buraco volta porque da sua alma foi rendido. Infernizados sejam todos os que me venderam sonhos com defeito e futuros com alegrias em catadupa. As catadupas defeituosas de sonhos destruídos são a única recordação que ficou desse caminho amargurado que com o corpo pesado de uma aleijado percorri. Vou apagar as luzes falsas que me alumiam, para de seguida jogar-me ao buraco encerrado que jamais voltará a ser aberto a não ser por magia, uma magia que não conhece outra qualquer e que reside dispersa em bocados de papel apodrecido, e dos sonhos desfeitos, das estrelas manhosas, das verdades absolutas, das tempestades de raios, dos despertares em lágrimas para o pesadelo que foi uma vida libertar-me-ei para sempre.
quarta-feira, dezembro 10, 2008
terça-feira, dezembro 09, 2008
É tudo confuso quando a nossa mente não combina com a realidade que nos rodeia. O cinzento eleva-se à condição de cor dominante, as pessoas não possuem rosto, os movimentos apresentam-se estanques, a água não faz os ruídos encantadores a que estamos habituados, o céu não tem noite nem dia, as estrelas não brilham, o sol não é encoberto pelas nuvens e nunca chove. A tristeza é o sentimento reinante e constante no mundo em que as coisas são como os outros querem que elas sejam e onde nós próprios somos um reflexo opaco daquilo que poderíamos ter sido se, porventura, houvesse em nós outra certeza que não fosse o medo. E continuamos neste marasmo, de olhos concentrados nos desenhos geométricos dos passeios, perdidos no desequilíbrio ténue da relva dos jardins, submersos pelos altos e baixos do asfalto que segura os carros, e dá-mos por nós incapazes de levantar a cabeça e apreciar o fresco que ilumina o céu de todos nós e que tão carinhosamente foi elaborado pelos artistas incógnitos que imaginaram o universo. Queremos aprecia-lo e ter a coragem que falta no momento em que bastava elevar um pouco a cabeça para contemplar o que nunca vimos, mas, quando voltamos a ter consciência da nossa própria existência, constatamos que apenas continua a existir o cinzento que sempre existiu e que nunca mudou, e continua a ser aquela cor soturna que preenche os objectos da minha fantasia e não existe nada para além de mim a não ser a morte e um profundo lamento por em algum momento do tempo ter existido. …. Morri dentro de mim outra vez.
segunda-feira, dezembro 01, 2008
1893
Continuo a pensar em mim e em mais nada, continuo preso ao fascínio que tenho por mim mesmo, que me faz adorar os dilemas e problemas em que vivo e que não existem, e oculto-me sob o véu farto dum belo olhar que pouco mais percorre do que a distância entre a ida dos meus pensamentos até à retina e o caminho de volta às minhas idiotices. O meu cérebro é feito de poeira, que levanta à mínima agitação, ao mínimo movimento, transformando-se subitamente numa confusão que se centra sobre as confusões que o compõe a si mesmo. Não há Inverno nem Primavera que quebrem ou façam renascer ao folhas que se alimentam eternamente de ideias nos galhos da minha obsessão por mim mesmo, e os anjos das religiões pequenas continuam a ser os alvos preferenciais da culpabilização por o universo continuar circular em meu redor, pelas coisas pequenas e grandes manterem as suas órbitas no limiar daquilo que pode ser por mim processado através das experimentações pelos sentidos, quando nada disso acontece, é como se o meu peso e pesar obrigassem os espaços e os tempos a condescender e as realidades, os pensamentos, os sentimentos, as agitações, os receios, as peripécias e a vida das pessoas ficassem conglutinadas em mim, mesmo sabendo que incomodam profundamente, os seus sons, os seus movimentos, a sua afectuosidade, a sua paixão, o mundo em que vivem, e eu próprio, raios. O mundo, este onde eu e todos os outros existimos, uns com prazer, outros com ódio, dilacera-me de dentro para fora, debaixo para cima, faz-me querer parar de respirar a qualquer momento, rasgar a carne e sangrar até não poder mais e fenecer. Mas a cobardia, a maldita cobardia que proíbe que eu dê o passo seguinte, o medo de perder as pessoas, os sons, as agitações, os cheios, os sentimentos e a vida que tenho é maior do que a falta de vontade de permanecer neste lugar infernal que existe para que as pessoas penem por crimes que realizaram numa realidade e num tempo que só a Deus compete delimitar, um designío divino cheio de incongruência e falácias. Este lugar dos infelizes é cruel, doloroso, sombrio, mas é tão belo… o mundo que se construiu à minha volta e no qual eu, qual criança que brinca com os legos, fui colocando as minhas peças, este meu mundo é lindo e eu adoro-o, não o quer perder e amaldiçoo a morte por saber que um dia ela mo levará, mo roubará, mo tirará sem dor nem clemência, com prazer e satisfação, e vou ficar aqui assim, estendido, pasmado, a sofrer pelas pessoas, pelos sons e pelos sentimentos que o destino fez o favor de me roubar. Não, não mereço isso. O mundo tem que permanecer da maneira que é e que sempre foi, as pessoas que amo devem ficar para sempre ao meu lado, os sons que me agradam devem tocar suavemente nos momentos que eu assim o quiser, os pássaros devem vir cantar-me aos ouvidos assim que o sol se levantar, a ternura deve despoletar quando o caos agita e a morte não tem o direito de destrui-lo, o meu pequeno mundo que tão loucamente adoro.
Inevitavelmente, não tenho os poderes que os homens atribuíram, no seu receio pelo desconhecido, aos Deuses e por isso o mundo do meu ideal vai ruir e o meu egoísmo será ainda maior e casará com o desprezo, com o desencanto, e aí a maldita cobardia acabará por ceder e eu vou poder reconstrui-lo, tal qual como era, no mundo que será destinado aos homens que, por cobardia, não de morrer, mas de querer continuar a viver, estiver destinado… E aí partirei para a luz distante… partirei para a luz distante…
segunda-feira, novembro 24, 2008
segunda-feira, novembro 17, 2008
Estrela Furiosa

O som canaliza-se para mim, flúi paulatinamente entre a complexa estrutura atmosférica e esbarra no interior dos meus ouvidos, e no desenredar do ruído ouço o grito das estrelas a morrer. O som reentrou no meu corpo, mas desta vez está próximo demais do cérebro e consigo descodificá-lo, eu sei qual é o som dúbio que se apossou do meu frágil corpo, conheço as razões veladas a cada nota emitida, eu vivo no som e o som vive em mim, somos a simbiose imperfeita das leis do universo diminuídas a relação sonora entre um emissor e um receptor e dessa relação edifica-se um estranho rendilhado de tempo e espaço bem no centro do meu peito, e a reinar nesse tecido bordado pelas aranhas mágicas do universo antigo encontra-se uma estrela moribunda que está pronta a morrer. A sua fúria é ingovernável e o meu corpo é efémero demais para aguentar as forças que o seu descontentamento provocam, mas eu consigo tocar com a ponta dos dedos nos sentimentos mais profundos dessa estrela, que são largados latentemente sem que ela tenha consciência de que os liberta e eu toco-os, acaricio-os, beijo-os com os lábio e beijo-os com as palmas das mãos, e dentro desses sentimentos renegados emerge uma doce sensação de alívio, de paz, de serenidade da qual não me sinto nobre em receber. Porque é que esta estrela, mais submergida em fúria do que a areia coberta pela enchente do mar, liberta serenidade e comiseração no momento da sua morte? Porquê?
São expelidos rugidos que crescem e diminuem e voltam a crescer e a diminuir, e é impossível aguentar a violência desta oscilação estando tão perto do seu âmago, sendo o imo cósmico deste belo e pavoroso feito.Há raios de luz a serem emitidos em todas as direcções e eu próprio desempenho o lugar da estrela na hora da morte, que me escolheu de entre muitos para ser o escudo incerto da sua fúria e guardador da sua serenidade. Os raios trespassam-me e saem à velocidade da luz do meu peito e viajam rapidamente para outros lugares recônditos do universo, são libertadas as camadas exteriores da bomba estrelar, logo após ter-se inflacionado dentro de mim, comigo, inflacionamos os dois para que o caos não se tornasse na realidade da humanidade que é minha vizinha, felizmente para mim, que tenho nas mãos o poder para ver-me livre dela para a eternidade, porém não quero nem os acho com importância para sequer pensar na sua insignificante existência neste momento de loucura. Esqueço-os. As camadas, as camadas externas da estrela quebraram as algemas e partiram em debanda em direcção ao próximo canto que albergará a próxima nova estrela e o próximo novo conjunto de planetas ou a próxima nova nebulosa planetária. A minha estrela em fúria é agora uma super nova e eu sou uma super nova consigo e ambos brilharemos juntamente, mais e mais intensamente do que qualquer outra estrela, e no nosso centro há um acumular enigmático de matéria que se adensa tão rapidamente, tão ligeiramente que destruiu o cofre de sentimentos negros que eu mantinha lacrado no centro do peito, sentimentos que levei eras a amaldiçoar e que me amaldiçoaram posteriormente, a partir do momento em que saíram do coração para ocupar o vazio que existe na minha mente, e agora fundem-se com a matéria densa que ficou exposta no momento em que as camadas exteriores da estrela se projectaram para o infinito. A fusão ocorre, e a uma intensidade desconcertante, fundem-se, fundem-se, e a estrela voltou a fundir, mas desta vez não funde hidrogénio em hélio, nem hélio em carbono, nem carbono em oxigénio…. Está a fundir a matéria extremamente densa da estrela, o seu centro, com sentimentos excessivamente densos do cofre do meu coração e a densidade está a atingir o ponto critico, não há volta a dar… os raios de luz estão a encurvar-se e a voltar à esfera de matéria densa e sentimento negro, passam pelo seu interior, são sujeitos a uma incrível transformação e voltam a ser emitidos e são-no repletos em electromagnetismo, raios púrpura são emitidos dos raios que foram capturados… Mas que raios são estes, que foram sujeitos ao peso do centro denso da estrela e dos sentimentos negros que guardava piamente no cofre do meu coração? Que género de efeitos provocarão no tempo espaço e que consequências terão para o despoletar de novos acontecimentos cósmicos que até então pura e simplesmente não existiam… O casamento entre um buraco negro cósmico e um buraco negro humano. Olhem-nas, que em tempos foram as explosões de raios gama, já não são iguais, há nelas um peso, uma dor, uma angústia, um ódio pelo nascimento e pelo renascimento que ocorre a cada minuto no universo. Será… Serão estes os raios que, depois de cozinhados a altas temperaturas no centro duma estrela moribunda que preferiu morrer num interior dum homem moribundo, tomarão o lugar de cocheiros do coche maldito que trará o tão aguardado fim ao universo através da destruição da matéria conhecida e desconhecida, da total desregulação das forças que o sustentam, da consumição da luz…. Da eterna escuridão. -------------------------
segunda-feira, novembro 03, 2008
A palavra que esconde a minha história
segunda-feira, outubro 20, 2008
Nem sei bem quê
Correntes de ar dum passado misterioso e nostálgico entrepõe-se entre mim e o nível contíguo a este e vergo-me sobre a pressão de memórias para as quais não encontro solução nem resolução, e lapidam-me a sanidade, lapidam e lapidam, destroem a complexa estrutura que tantos anos levei a criar para poder andar de um lado para o outro sem que o mundo reparasse na existência de um alguém que se identifica comigo e que é anulado por mim mesmo. Vivo imerso no lago gélido do reflexo dum espelho opaco que separa o meu reino dos demais reinos das pessoas, que frequentemente se entrecruzam e fundem-se em reinos únicos e gigantes com reis artificiais e doentes que anseiam pela destruição total dos seus súbditos única e simplesmente porque este ousaram desejar o alargamento irrisório e pouco credível das suas possessões e isso possui-me duma vontade indizível de morrer e matar com a morte, subir aos meandros do inferno suspenso e cair, a velocidade alucinantes, enquanto agarro anjos e os obrigo a vergarem-se ao meu capricho, ao meu desejo desolador, e tudo fica pincelado com os tons cinzentos e pardacentos da pintura da morte, dessa tão longínqua e inatingível companheira que me envia leves e doces lembranças envoltas em vento fresco da manhã. Lembro-me dela a eclodir silenciosamente do ovo barulhento do sofrimento enquanto gigantes se alimentavam alarvemente de vazio e riam e riam e riam e os barulhos infernais e silenciosos penetravam levemente no meu ouvido e o cérebro aquecia, aquecia, como a chama imortal do inferno que cresce e vive das almas sumidas que chamam por mim. E a marcha solitária dos caminhantes mudos produz uma bela melodia que ninguém quer ouvir, porque o som que eles libertam está imbuído duma verdade que todos recusam reconhecer e é essa verdade que magoa e fere e faz sangrar e quero elevar-me de sangue até que os monstros se esfumem e vazem para o mar das sombras malditas que termina no fim do meu juízo, naquele lugar lindo e florido onde Deus e o Messias aguardam por mim para me iniciarem na grande contenda. Vou, um pouco no escuro e sem saber se coloco os pés em terra firme ou se caminho em palavras soltas que não encontram conexão lógica entre elas e não edificam o caminho mágico que os grandes vultos do pensamento superior ousaram atravessar. Pena, dá-me pena ver-me a bater em todas as paredes e muros e também nos tectos e os sopros quentes do inferno em saudações para o Cristo que foi negado no dia em que o mundo iniciou o caminho da promessa antiga e tenho pena das pedras que calco, pena da água que evapora e devanea no céu sem manifestar pesar pela sua condição aborrecida de perpetua procura para a queda, e caiu juntamente com ela e com as veias jugulares que a gládio divina rasgou em punição, como uma crise insondável que começa no términos daquele maldito passado que ascende em mim e carrega os anjos no seu dorso e a veste branca mancha-se de sangue quando pousada em mim. Pobres anjos que cantam músicas infernais para alegrar a nossa passagem para o mar das águas turvas, enquanto os demónios dedilham a harpa e tocam flauta e as melodias são tão lindas e a roçar o divino que o próprio Deus abandona a carruagem de luz para agradecer aos demónios pelo presente bendito que souberam, com toda a arte e sentimento, conceber. Será que ainda tenho tempo para escolher uma carruagem de bênção pintada? Não vou a tempo e o tempo não vai comigo. Somos incompatíveis e jamais teremos desfechos viáveis para a resolução das nossas amargas desavenças e permaneceremos eternamente ligados num circuito de carruagem com destino aos lugares do divino e nesse caminho conjunto trocaremos olhares de pesar, no dia em que a morte cantar para mim.
Canta para mim minha musa, grita o meu nome e vamos fugir os dois. Naquele sono perpétuo seremos um só, para o incessante, e dele crescerão folhas impressas com listas de cores e a cromática ferirá os olhos cujas íris não tiverem cor e a cor repudiará as íris que quiserem ter cor. É esse o destino dos nossos olhares entrecruzados, tempo, que na morte deixaram de o ser e eu vencer-te-ei porque jamais farás parte dos meus dilemas. E assim me fico e assim quero fica, sem pernas nem braços, sem asas e penas que produzam melodias obscuras e lagos gélidos. Não, não. Só há negação no meu espírito é tudo tão confuso, tudo tão inversamente inverso, atrozmente atroz. ……
Canta para mim minha musa, grita o meu nome e vamos fugir os dois. Naquele sono perpétuo seremos um só, para o incessante, e dele crescerão folhas impressas com listas de cores e a cromática ferirá os olhos cujas íris não tiverem cor e a cor repudiará as íris que quiserem ter cor. É esse o destino dos nossos olhares entrecruzados, tempo, que na morte deixaram de o ser e eu vencer-te-ei porque jamais farás parte dos meus dilemas. E assim me fico e assim quero fica, sem pernas nem braços, sem asas e penas que produzam melodias obscuras e lagos gélidos. Não, não. Só há negação no meu espírito é tudo tão confuso, tudo tão inversamente inverso, atrozmente atroz. ……
quinta-feira, setembro 25, 2008
Diálogos com Deus

Uma obscuridade traçada em números num papel que se auto induz a conceitos enormemente precários, que nada mais são do que os convívios dos homens com a lei dos Deuses, palavras que foram aliviadas por gritos inaudíveis que se propagaram num vácuo que não concede propagação, mas as forças motrizes são tão veementes e incógnitas que as vozes dos Deuses recusam a permissão dos seus domínios para circular livremente e há sempre um homem de ouvidos apontados à comoção para descodificar essa linguagem intemporal e douta, duma erudição tão distante que os descodificadores jubilam ao ver uma estrela a vociferar em sinal de um ponto paragrafo, … ali termina uma interjeição de Deus, uma lei, um desabafo universal que às estrelas foi berrado e que às estrelas fez abdicar do seu ligar num lugar qualquer desenhado pelas mãos extensas das forças que procuro agarrar, amar e fundir-me em parte delas. Ai como é bela a pressão de milhões de toneladas em apenas um ponto no microscópico, é uma destruição que sentimos da ponta dos cabelos às células cimentadas da derme, no interior dos órgãos que formam o interno de todos nós e o limite é a eternidade em raios velozes e imparáveis, como Deus disse que seria quando a musica primeva encheu os salões do Seu reino.
Se pelo menos falasses directamente comigo e tivesses a sujeição de me explicar as nuances sombrias da tua linguagem, para que o nosso diálogo não se cingisse aos pensamentos que temo em divulgar. Queres que me tomem por louco por querer aceder-te. Eles não conhecem o poder de que és dono e todas as minhas tentativas para ter-te mais próximo de mim serão tomadas como desvios e psicoses, guiar-me-ão a um mundo onde parede almofadadas instituem um horizonte de eventos mais vazio do que a aproximação à dança catatónica dum buraco negro, é isso Deus, os buracos negros da Terra, aqueles cuja física não aceita nos seus paradigmas, é nesses que me vou acabar, à espera que me envies o sinal para o enlace final, mas garanto-me, Meu Pai Criador, não haverá nem houve e muito menos há coisa ou sensação que me possa preencher mais do que terminar-me em ti e reviver a minha vida passada num futuro maior, intemporal, onde as noções de dimensões espaciais e temporais deixam de fazer sentido e só as curvaturas dimensionais continuam, numa espécie de via ferroviária oculta pela escuridão húmida e ausente dum túnel longo. É no túnel que se inflama a nossa realidade, nas linhas incorpóreas que percorrem quilómetros e quilómetros de espaço até que o ser humano ignore termos e conceitos que facultem a compreensão da dimensão dos nossos reinos, e isso faz de nós algo maior do que um dogma, algo maior do que uma dúvida, algo maior do que uma singularidade… isso faz de nós os termos e as conjunturas que eles terão que desembrulhar num caminho continuado de decadência, dor, avanços e retrocessos, até ao momento em que o retrocesso impossibilitar o regresso e as suas construções, aquelas que com vaidade e insonolência não param de gabar, desapareçam do espaço a que chamavam universo e regressem a Ti, que nada mais és do que o seu engenheiro, desenhador e produtor.
Mas, Deus, como é que eu posso almejar tal sonho de entidade se nem da força gravitacional da terra, desta pequena e simpática terra, consigo libertar-me. Envia-me um furacão de energia, um feixe interminável e invisível de luz que esfarele a minha composição morbidamente tétrica, e assim poderei viver em partículas talhadas directamente por ti, quando nos tempos vagos te divertias a acender o rastilho de estrelas moribundas. Reclama-me novamente para ti, que seu teu em todos os sentidos. A humanidade que me concedeste através das reacções químicas estranhas que se desenrolam no meu corpo trouxe um defeito irreparável, que só me legou a sensação de exiguidade e o desencaixe a um mundo que não foi criado para a minha presença eterna. Eu vou vencer o tempo e os humanos não podem vencer o tempo, porque deixaste uma armadilha quase subtil no limiar das suas vidas, que os faz querer voltar a ser aquilo que foram, em sucessões sucessivas de repetições maçadoras e dilacerantes, e, quando assim não é, ficam outros eternamente ligados a eles chorando pelo seu regresso e pelo reinício do tempo em que tudo para eles iniciou. Eu não quero isso, jamais. Anatematizarei quem quiser aprisionar-me a esta terra com as cordas do sentimento, que impedem a progressão infinita até aos domínios do Criador. Por favor, jamais fareis isso por mim. A morte e o inferno resumiram-se ao período em que vivi com os homens, nos seus domínios, pequenos e atrofiadores, cheios de sentimentos pequenos de avareza, ganância, falso altruísmo e inveja. Esses elementos foram banidos do verdadeiro reino da verdade onde a verdade e a mentira se fundem para criar um estado de ser diferente, ausente, presente, quieto e irrequieto, onde tudo pode ser o que nada é e nada pode ser tudo o que é.
Vamos, não te quero maçar com pedidos, o tempo há-de vir e a felicidade, que desconheço mas que amo, por ver nela o inatacável do ser humano, preencher-me-á para a grande eternidade.
quinta-feira, setembro 18, 2008
Explosão

As mudanças subitamente deixaram de ocorrer e os movimentos descoordenadamente harmoniosos dos humanos nos seus formigueiros tornaram-se maneáveis, pardacentos, acabando por cessar e silenciar, e só eu me movimento, só eu consigo agitar as pernas com vontade de correr e a imagem do horizonte não afunila, permanece parada, as minhas pernas esforçam-se por dar ao meu corpo movimento, mas é tudo uma repetição aborrecida do ontem, do anteontem, do século passado, do eternamente para trás, até ao instante em que um Deus satírico e algoz deu à Luz uma bolha que cresceu e que deu à luz a Luz e que deu à luz o sol e que deu à luz a terra, que deu à luz a estagnação dos filhos que não deu à luz por saber de antemão que a inépcia de voltar a dar à luz atormentá-los-ia até ao fim da sua existência. Pois é, a eles foi jarretada a arte de dar à luz e isso fere-os e eles procuram quebrar o feitiço, contornar o destino, mas é do fado a arte de contornar e não daqueles que não podem dar à luz, dos não eleitos que fustigam o próprio corpo em nome da infertilidade.
Que mundo, Deus satírico e contemplador, que mundo feio que tiveste em pensamento quando optaste por deixar eclodir a bolha que seria o destino desse mesmo mundo, que maldade, que castigo, tu nunca tiveste o céu para dar porque limitaste-te a criar um inferno para onde reconduzes vermes que terão te aborrecido algures num momento e num espaço que só a ti fará sentido e só em ti será reconhecido, e os homens nem sequer aceitam que limitaste a sua existência à pequenez desse inferno que a determinados momentos deixa rever situações que foram nele em algum momento da sua existência prolongada aos olhos dos pequenos e tão curta aos teus olhos. Começo a perceber-te como perceberam os homens que viram em ti o único e verdadeiro deus, sem nunca alcançar a tua verdadeira forma, eu sei, mas mesmo assim consigo sentir no coração deles o medo e o receio que sentiam por sequer dizer o teu nome em vão, se o castigo era a loucura a que os sujeitaste e que agora sujeitas a mim. Leva-me para junto de ti, onde as estrelas não são estrelas e as galáxias não são galáxia, onde a luz não é luz e o que é não é. Peço-te, permite-me acompanhar-te naquele primeiro instante em que revelaste a tua verdadeira face, antes de te ocultares para sempre nas enigmáticas fórmulas que não conseguem chegar até ti. Eu estou contigo aqui, nesse momento e vejo-te tão bem como vejo o ecrã da máquina dos homens que me apoia na queda para o abismo, e clamo pelo teu nome para que possamos explodir os dois, sabendo que o amanhã era o ontem em que tu mesmo foste gerado. Vamos, que o meu corpo é susceptível à maldade e às armadilhas que deixaste no inferno em forma de bolha…. É agora………………………….
terça-feira, setembro 09, 2008
Labirinto

Queria sinceramente que houvesse alguém com o condão de me tirar daqui, com a calma com que se ensina um faminto a pescar, recuso uma saída brusca, violenta e não me sinto em condições, nem à altura, de esbarrar com um mundo que me é estranho e confuso, mas que é aquilo que quero, a amnésia para a minha loucura e o caminho silencioso que abre, lá no fim, para uma imensidão de luz.
Mas continuo a imaginar situações bonitas que mudariam o meu estado de alma caso eu tivesse a força motivadora, a vontade firme e o desejo real de sair daqui, e, de facto, é tudo apenas uma das inúmeras mentiras que tento vender a mim próprio. Ninguém percebe, ninguém vê, eu continuo a ser e a existir no mesmo mundo em que existem as pessoas, mas a minha imagem, aquela que é reflectida pelos meus olhos, é totalmente desfocada em pensamento cuja origem desconheço mas que acredito provirem de algum mal de ordem mental, um mal que teimo em não querer assumir e que alimento no fluir da minha continuidade temporal, vivo e consciente.
E depois surgem as interrogações…. Se eu fosse de outra maneira, continuaria a encontrar forças para resistir, continuaria a apreciar as coisas grandiosamente insignificantes do ser humano, da terra, do sistema solar, da via láctea e do universo em geral? Teria disposição ou auto motivação para contemplar situações que em grande parte carecem duma profunda solidão para serem vivenciadas em todo o seu esplendor?
Peso nos olhos, peso nos olhos, pouca fluência de ideias, lobos cerebrais em quase dormência… erros
terça-feira, setembro 02, 2008
As duas existem e estão aqui, silenciosamente contemplativas

Diz-me duma vez o porque de não ergueres esse corpo leve do canto escuro dessa sala onde te encobres, quando lá fora o tempo move-se lestamente e não se absorve se o acompanhas ou não, nem mesmo se importa com o fundo dourado da tua cela, que nada mais é do que um estratagema teu para enriqueceres algo que é pobre por natureza e irremediavelmente finito. Consegues escutá-los, aos sons quânticos, que atravessaram incontáveis dimensões para alcançarem este tugúrio vazio e magoado, roçando aos nossos ouvidos como pequenos queixumes que não sentimos compreender, talvez por falta de habilidade ou por falta de interesse, mas que, na realidade, estão aqui para contemplar-te e para te fazerem acreditar na tua própria veracidade enquanto criatura respirante e biologicamente presente.
Já não há luz no fundo da vida, sabias? A tua recusa permanente em combater as entidades escuras que te bajulavam afastou a luz, levou-a à exaustão definitiva, e quando lá chegares nem mesmos os olhos, que gabas serem os melhores de entre os animais noctívagos, valer-te-ão quando a boca da morte estiver aberta para ti, nos silenciosos últimos momentos em que o suor brota dos poros da derme a um ritmo metabolicamente executado. A miséria ve-me a dançar com as nuvens e inveja-me por ser eu um dos detentores do fluido divino que escorreu naqueles dias antigos em que os homens apedrejavam aqueles que pelos quais sempre haviam clamado em nome duma salvação egocêntrica e invejosa. Numa única noite banhei-me nele e dele ganhei a luz que cruza o universo à velocidade dela mesma, e não a velocidade de quem a quis prender em teoremas e fórmulas pequenas do intelecto humano. Eu dancei com a luz e os nossos pés chapinavam naquele sangue que vivia de aura distante e poderosa. A nossa dança prolongou-se até que os planetas dispersos se unissem sob a égide de um rei absoluto, intolerante e punitivo. Esse rei que, de guloso, quer morrer e da morte quer o fim dos seus mais próximos, num acto de petulância sem igual, pelo menos para ti, que és homem e não tens o dom de ditar sobre os ditados de ninguém. O que eras agora é apenas um antes que é para ti. Vale a pena um sacrifício tão ímpio e imoral levado a cabo por um impuro e pérfido ser humano. O mundo está quase completo na sua aparência disforme e só tu pensas conseguir vislumbrar por de entre as brumas que os acasos deixaram calmamente para ti, para tua confusão e para o nosso desespero, e o nosso novo amor ressente-se das estocadas frias que imprimiste aquando da tua irracionalidade psicótica, quando as trompas dos guerreiros medi orientais soaram do alto da duna que planeavas conquistar para ti, para teu próprio recreio, como se a duna quisesse responder e submeter-se aos teus singelos caprichos de criança sem futuro, sem arte, sem alma, sem vontade de viver, de vida de pernas para o ar, num caminhar em constante desavesso. Bonito, que bonito é ver o monte deserto a ser bordado com chamas e raios de sol, dum sol que ganha cor a cada disparo incógnito vindo do limiar do horizonte, local onde em tempos querias erguer um castelo, que nada mais era do que a tua câmara de torturas, porque eu sei, sei aquilo que tu sabes e finges esquecer… Eu sei que o teu sonho era destruir o sol, seres o seu algoz como ele sempre o foi para ti, cantando aqui e ali aquele som quase mudo ao qual te tornaste intolerante.
O veneno sobe lentamente às reacções eléctricas cerebrais e sentes-te afectado pelos seus efeitos, que não raras vezes dizes ser a melhor coisa que experimentaste nesta terra, que para ti não é novidade, que é e será sempre o teu reino, já que existes desde tempos imemoriais e continuarás a existir até tempos imemoriais, quando o sol e a terra forem meras memórias dum homem imemorial.
Perdoa-me se te maço, mas estar dentro da tua cabeça exige-me imensa interpelação, questões afloram das incongruências inconsistentes e doentes que montaram acampamento dentro de ti. Continuo a divagar nessa mente em dia de furacão.
Já não há luz no fundo da vida, sabias? A tua recusa permanente em combater as entidades escuras que te bajulavam afastou a luz, levou-a à exaustão definitiva, e quando lá chegares nem mesmos os olhos, que gabas serem os melhores de entre os animais noctívagos, valer-te-ão quando a boca da morte estiver aberta para ti, nos silenciosos últimos momentos em que o suor brota dos poros da derme a um ritmo metabolicamente executado. A miséria ve-me a dançar com as nuvens e inveja-me por ser eu um dos detentores do fluido divino que escorreu naqueles dias antigos em que os homens apedrejavam aqueles que pelos quais sempre haviam clamado em nome duma salvação egocêntrica e invejosa. Numa única noite banhei-me nele e dele ganhei a luz que cruza o universo à velocidade dela mesma, e não a velocidade de quem a quis prender em teoremas e fórmulas pequenas do intelecto humano. Eu dancei com a luz e os nossos pés chapinavam naquele sangue que vivia de aura distante e poderosa. A nossa dança prolongou-se até que os planetas dispersos se unissem sob a égide de um rei absoluto, intolerante e punitivo. Esse rei que, de guloso, quer morrer e da morte quer o fim dos seus mais próximos, num acto de petulância sem igual, pelo menos para ti, que és homem e não tens o dom de ditar sobre os ditados de ninguém. O que eras agora é apenas um antes que é para ti. Vale a pena um sacrifício tão ímpio e imoral levado a cabo por um impuro e pérfido ser humano. O mundo está quase completo na sua aparência disforme e só tu pensas conseguir vislumbrar por de entre as brumas que os acasos deixaram calmamente para ti, para tua confusão e para o nosso desespero, e o nosso novo amor ressente-se das estocadas frias que imprimiste aquando da tua irracionalidade psicótica, quando as trompas dos guerreiros medi orientais soaram do alto da duna que planeavas conquistar para ti, para teu próprio recreio, como se a duna quisesse responder e submeter-se aos teus singelos caprichos de criança sem futuro, sem arte, sem alma, sem vontade de viver, de vida de pernas para o ar, num caminhar em constante desavesso. Bonito, que bonito é ver o monte deserto a ser bordado com chamas e raios de sol, dum sol que ganha cor a cada disparo incógnito vindo do limiar do horizonte, local onde em tempos querias erguer um castelo, que nada mais era do que a tua câmara de torturas, porque eu sei, sei aquilo que tu sabes e finges esquecer… Eu sei que o teu sonho era destruir o sol, seres o seu algoz como ele sempre o foi para ti, cantando aqui e ali aquele som quase mudo ao qual te tornaste intolerante.
O veneno sobe lentamente às reacções eléctricas cerebrais e sentes-te afectado pelos seus efeitos, que não raras vezes dizes ser a melhor coisa que experimentaste nesta terra, que para ti não é novidade, que é e será sempre o teu reino, já que existes desde tempos imemoriais e continuarás a existir até tempos imemoriais, quando o sol e a terra forem meras memórias dum homem imemorial.
Perdoa-me se te maço, mas estar dentro da tua cabeça exige-me imensa interpelação, questões afloram das incongruências inconsistentes e doentes que montaram acampamento dentro de ti. Continuo a divagar nessa mente em dia de furacão.
segunda-feira, setembro 01, 2008
O mundo curva-se aos meus pés em jeito de clemência e eu sei que gosto quando o manto de escuridão nocturna me traja de rei. Sou o césar dos fracos, que de mais fraco conseguiu o topo da hierarquia, um pouco sem querer, mas estima-me este lugar de destaque em relação a ninguém, uma vez que todos os outros estão acima de mim numa estranha escala que prevê um lado de positividade e outro que prevê a negatividade., e isso faz-me sonhar com a singularidade absoluta que só às sombras do universo é permitida. A beleza das palavras de alguém que fogem de mim a velocidades dos taquiões, hipoteticamente superiores à velocidade da luz, que criam requiem sustenidos a anjos que, de tão revoltados, tomaram a corajosa decisão de se verem livres das asas e vivem enjaulados em rochas a ferver que há momentos foram expelidas do profundamente quente centro da terra. É ver dias a receber a noite e noites a receber o dia, numa troca simpática de favores, que chega a ser dolorosa pela falta de criatividade e de renovação, só porque se sentem no direito de gozar de brincar com a luminosidade de aqueles que infortunadamente caíram neste mundo luminoso de para quedas. Não tenho paciência para esta troquinha benévola do ora agora brilho eu ora agora brilhas tu. Eu quero-os a ambos a abrasar no mesmo segundo, quero que uma energia descomunal penetre nas dermes dos ratos que caminham em duas pernas, quero sentir o cheiro a carne em combustão, enquanto regozijo sentado a boleia duma meteoro que passa. E as baleias a cantaram para mim, no dialecto que só nós somos capazes de entender, dor, sofrimento, falta de ar e náusea, como se a passagem pela vida se resumisse a vê-los arder como ardiam as bruxas e os judeus sob a égide dos tribunais medievais e pelo obsoleto santo oficio. Pergunto-me se consegues ver-me a viajar com os fotões e tens aquela estranha sensação de que fiquei imortalizado na tua retina e que o tempo parou para mim, mas eu trespasso-te efectivamente, sem que tu tenhas tempo sequer para respirar e já sou parte do quando percebes que é futuro. As mãos cobrem o rosto e agitam os cabelos que tombam sobre a minha testa, infecta e perniciosa, o sarcófago da minha doença o cerne da minha dor, tudo, onde tudo e nada estão errados, onde quero ser e desaparecer e voar ao sentido do vento cósmico carregado de radiação que alterará a minha composição até que restem meramente a cinzas quânticas do meu tempo aqui, no inferno dos corpos que não querem morrer.
Os tipos que assassinam as baleias estão ligados de corpo e alma ao demónio e são tão ingénuos e pequeninos que não foram capazes de perceber isso, o que está ao alcance de qualquer ser unicelular ou dum composto carbónico que ainda não descobriu que pode, de um momento para o outro viver. Eu vivo dentro delas e escuto o grito de sofrimento que emitem, leio-o, vivo-o e transformo-o em mensagem livre que ecoará por milhares de milhões de anos no universo, até ao momento em que o apelo se converte em cominação, numa tremendo desafio bélico à humanidade. Que caramba, afinal estou aqui, entre as quatro paredes que prendem a minha inconsciência. Posso libertá-la? Alguém é cortês e responde-me se posso efectivamente deixar-me apresar pela inconsciência e viver livremente como todos os outros quereriam viver.
Não há resposta, porque não há aqui vivalma, nem aqui nem em lado nenhum, aqui só existo eu a falar comigo próprio. Que perda de tempo.
Os tipos que assassinam as baleias estão ligados de corpo e alma ao demónio e são tão ingénuos e pequeninos que não foram capazes de perceber isso, o que está ao alcance de qualquer ser unicelular ou dum composto carbónico que ainda não descobriu que pode, de um momento para o outro viver. Eu vivo dentro delas e escuto o grito de sofrimento que emitem, leio-o, vivo-o e transformo-o em mensagem livre que ecoará por milhares de milhões de anos no universo, até ao momento em que o apelo se converte em cominação, numa tremendo desafio bélico à humanidade. Que caramba, afinal estou aqui, entre as quatro paredes que prendem a minha inconsciência. Posso libertá-la? Alguém é cortês e responde-me se posso efectivamente deixar-me apresar pela inconsciência e viver livremente como todos os outros quereriam viver.
Não há resposta, porque não há aqui vivalma, nem aqui nem em lado nenhum, aqui só existo eu a falar comigo próprio. Que perda de tempo.
quinta-feira, agosto 28, 2008
máscaras - o subconsciente - o doente - o palhaço
Não consigo, é uma luta inglória.
segunda-feira, julho 28, 2008
Viagem entre duas estrelas

Eis um novo som a emergir do mais cavado do meu cosmos. Ele cresce lentamente e capta a minha atenção, vive alimentando-se da minha essência, e que robustez de barulhos confusos tão intricadamente tricotados que, não raras vezes, chega a roçar uma ode sonora, uma ópera, é isso, mesmo não possuindo características que o insiram neste género musical, a gracilidade dos seus sons chegam a roçar o mais profundo e complexo que se conhece da ópera. E vozes cósmicas, tecnologicamente insondadas entrepõe-se entre a harmonia celeste desta composição para guiá-la numa direcção inteiramente diferente, no sentido da estrela mais contígua ao sol e posso segui-la, à mesma velocidade, com a mesma elegância, com o mesmo sentido de ausentar-me das imediações do planeta. Mas há vozes bárbaras que acompanham o som, imprimindo-lhe qualquer coisa de obsoleto, que modificam-lhe a fórmula e o fazem divagar num friso cronológico da história do meu planeta. E surge mais um sample hipnótico para martirizar os meus sentidos sem piedade, o meu corpo ressente-se, torce-se, esmaga e expande, tudo num fundo cénico que cria uma ponte entre eras longínquas e eras inatacáveis, e os actores surgem, vêm vestidos de veludos, couros e linhos, e trazem os olhos cobertos em materiais sintéticos, assim como sintéticos sãos os seus adereços. Que peça é esta, quem foi o maldito criador desta encenação que me confunde, que aumenta a entropia em meu redor, quem é o condenado, eu não quero comprimir, diminuir, implodir na confusão. Quero servir-me do som e expandir-me, crescer, voar daqui para fora, cruzar o espaço e o tempo a uma velocidade ilimitada, por favor, ajudem-me e não me deixem ficar para trás, deitado à constrição, à pequenez, a introspecção e à loucura. Levem-me convosco e deixe-me tomar a dianteira do som que segue em direcção à próxima estrela, à estrela que se segue ao sol, ao nosso último destino.
Está-me a falhar a oralidade, a sintaxe, a semântica, as palavras surgem livres do interior mais recôndito da minha memória e projectam-se à velocidade da luz numa folha, a confusão é atroz e limitativa, os movimentos do corpo já não seguem ao controlo do meu sistema nervoso central e os caracteres estão a metamorfosear-se à frente dos meus olhos e o som alterna a ritmos pouco elegantes entre o obsoleto e o vanguardista, ai que os nervos estão a atrapalhar-me na minha tentativa de sair do planeta ainda hoje. Eu já estava a ascender, de vagar, eu sei, mas o vazio da descolagem já se fazia sentir nas minhas entranhas, estava a perder a sensação da gravidade da terra a puxar-me para si, e agora continuo a ascender, e conto com a ajuda da confusão que vai sendo orquestrada lindamente pela miríade de sons antagónicos que se misturam na melodia que leva os homens para as outras estrelas.
Pedras, estão a cair pedras do céu, e a que velocidades viajam, meu Deus, conseguem viajar mais depressa do que o meu corpo, que já ia embalado na velocidade supersónica da melodia rebuscada e confusa que me servia de propulsão. Eu queria seguir no sentido inverso ao das pedras que caem, mas a sua velocidade prendeu-me, encantou-me e deixou-me no meu coração a vontade de viajar com elas, de comprimir novamente e deixar-me amarrar pelos braços gravitacionais que ladeiam a terra. Indecisão neste momento é que não. Não quero ficar sem saber o que quero realmente, porque a minha primeira opção é aquela que tem que prevalecer, quero partir para a estrela mais próxima e voar a uma velocidade próxima da velocidade da luz e ouvir, ao longe, a bela melodia pluritemporal que me impulsionou para os ares.
É noite, a barreira azul do céu dissipou-se, esqueci as dores, os medos e todas as coisas que me faziam sofrer, a partir de agora é para a frente, seguindo o som do futuro e as melodias do passado em direcção ao desconhecido. A escuridão do cosmos murmura votos de boa viagem, não é tempo de hesitar, a velocidade aumenta de forma louca e é tarde para pensar, o espaço parou, tudo parou, e só a música mantém a sua presença inalterada, e vejam a terra, azul e magnifica, que coragem temos em deixá-la para trás, mas não é de nós que ela precisa… não. Precisa de quem a ame e de quem a estime e nós já não somos capazes de o fazer, passamos dessa fase motivados pelo nosso egoísmo e desejo de expansão. Vamos, jamais voltaremos, ou talvez um dia possamos voltar, quando reaprendermos a amá-la na medida em que ela merece, vamos, sem recordações ou lamentações, a estrela mais próxima é o nosso destino e nada o pode mudar.
Pedras, estão a cair pedras do céu, e a que velocidades viajam, meu Deus, conseguem viajar mais depressa do que o meu corpo, que já ia embalado na velocidade supersónica da melodia rebuscada e confusa que me servia de propulsão. Eu queria seguir no sentido inverso ao das pedras que caem, mas a sua velocidade prendeu-me, encantou-me e deixou-me no meu coração a vontade de viajar com elas, de comprimir novamente e deixar-me amarrar pelos braços gravitacionais que ladeiam a terra. Indecisão neste momento é que não. Não quero ficar sem saber o que quero realmente, porque a minha primeira opção é aquela que tem que prevalecer, quero partir para a estrela mais próxima e voar a uma velocidade próxima da velocidade da luz e ouvir, ao longe, a bela melodia pluritemporal que me impulsionou para os ares.
É noite, a barreira azul do céu dissipou-se, esqueci as dores, os medos e todas as coisas que me faziam sofrer, a partir de agora é para a frente, seguindo o som do futuro e as melodias do passado em direcção ao desconhecido. A escuridão do cosmos murmura votos de boa viagem, não é tempo de hesitar, a velocidade aumenta de forma louca e é tarde para pensar, o espaço parou, tudo parou, e só a música mantém a sua presença inalterada, e vejam a terra, azul e magnifica, que coragem temos em deixá-la para trás, mas não é de nós que ela precisa… não. Precisa de quem a ame e de quem a estime e nós já não somos capazes de o fazer, passamos dessa fase motivados pelo nosso egoísmo e desejo de expansão. Vamos, jamais voltaremos, ou talvez um dia possamos voltar, quando reaprendermos a amá-la na medida em que ela merece, vamos, sem recordações ou lamentações, a estrela mais próxima é o nosso destino e nada o pode mudar.
sexta-feira, julho 25, 2008
Quarto Vazio

Eu já ganhei um abrigo, criei-o com toda a arte e sabedoria que acumulei de pessoas que padeceram da mesma inconstância do que eu, mas tu consegues sempre superá-los e entras silenciosamente, com um pesar profundo nos olhos que me transmite medo, receio, dúvida, só que não posso negar-te e simplesmente ignorar-te, sabendo que és uma das partes mais prementes da minha personalidade, não posso evitar-te quando sei que estás aqui, mais intrínseco ou mais extrínseco, estás aqui, no céu generoso que conquistei aos anjos e nos campos sangrentos que ganhei nas derrotas sobre as bestas.
Dá-me nomes, enche-me de lamentos, de pesares, trata-me da maneira mais rude que conseguires, faz-me lembrar que és de mim e que jamais serás de outro alguém, envolve-me no som dos sinos da igreja que vociferam o meu requiem, e, por favor, morre comigo. Estou sem forças, não há apoios resistentes dentro de mim onde me possa apoiar, ainda por cima cortaram-me as unhas e crucificaram-me sobre uma cruz de noções estranhas sobre as quais levantei a minha conduta. Mas não existe conduta, a existir, existe uma profunda apatia e um humor terrível que não mudo e não quero mudar, porque eu sou apático, alienado, não quero gente, não quero barulho, não quero sorrisos, não quero sonhos belos, nem quero neve a cair-me sobre os pés. Estou soterrado em noções estranhas que ganharam vida de uma cruz de madeira que me ampara uma das paredes da cela. Cicatrizes surgem-me nas mãos e dá-me vontade de chamar a viúva que congeminou a minha queda e a morte que nos alimentou a todos, foi por elas que perdi o controlo do meu eu e me deixei subjugar pelo meu id, a elas devo a minha queda e a ressonância dos meus pecados. Sou recalcado, recalcado, frustrado, atormentado por lembranças esquecidas de lendas que viviam nos meus tempos de infância, na adolescência, na idade adulta, na velhice e na morte. Serei eternamente recalcado, no passado ou no futuro, nunca no presente, porque assumo que fui recalcado e que serei recalcado e que eu próprio me recalco neste momento para padecer de mais recalcamentos. Tenho uma câmara aberta para mim, num chão com falsos e aberturas, não sei que fazer dela, embora ouça estranhos lamurios que se elevam do seu interior, dizem “Guiar-te-emos à corrupção dos anjos”, “Amarás a corrupção dos anjos como jamais amastes as coisas da terra”. São factos de sítios secretos que não conheço, nem quero ouvir falar, mas que se apresentam e se oferecem para matar-me a pele e os pecados, para eliminar para sempre a minha tristeza, querem que eu disponibilize a minha moral e a minha ética, sonham em ver-me esvaziado de pilares que guiem condutas aceitáveis para que a minha degeneração seja completa, incontestável, inexorável, bárbara e final.
Os meus olhos optam por se esconder, tal é a confusão entre tempos verbais e tempo dos homens que me vai na alma. Estão cansados de devaneios tristes e infrutíferos, querem abdicar de mim, e certamente não voltarei a ver as coisas do mundo dos homens nem as coisas do mundo dos anjos. A minha alma será purificada, mas os meus olhos estão condenados à eternidade da escuridão, não há nada que o meu interior possa fazer para alterar as modificações que ocorrem ao nível do exterior do meu corpo, embora seja dele a responsabilidade de tal destruição. Vento, vento, vento artificial que me consolas a face, vento das máquinas humanas que tens para me dizer? Esse sopro diz tão pouco e de forma tão complexa que os meus sentidos de homem começam a perder em qualidade para as tuas vocalizações, vou para baixo do reino dos homens, é isso que pretendes dizer e que eu, com muito esforço, não consigo compreender. As minhas pernas rangem de inércia, as articulações dão estalidos estranhos que indicam pouco movimento, e eu crente na agitação do meu dia a dia, imbecilidade, se eu nem sequer me movi um milímetro e assisto à reposição adiantada da minha vida sem sequer abrir os olhos. É demasiado complicado, está-me a brilhar dentro do coração e eu tenho fé na sua luz, mas as trevas avançam a velocidades próximas da velocidade da luz e rapidamente cairei na escuridão, é um sacrifício, dizem-me vozes, quem são, ninguém, sempre ninguém, vozes que não pertencem a ninguém.
segunda-feira, julho 21, 2008
O conhecimento e o momento

É impressionante o poder duma conjugação de ápices cósmicos que não podem ser justificados ou perfeitamente compreendidos. É como se houvesse, oculto na escuridão infinita da matéria e antimatéria, um Deus que comandasse o nosso aparecimento, de forma a que ambos os surgimentos se dessem rigorosamente no mesmo nano segundo, num período de tempo infinitamente pequeno e preciso que só pode ser contabilizado pelo complexo relógio da história do universo.
Estranho, se não há Deus, como é que como a história do universo decorre com tanta precisão, e as coisas surgem, crescem e desaparecem de maneiras tão semelhantes? Isto não pode ser assim, não podemos simplesmente afirmar que não há Deus, quando tudo aquilo que conhecemos nos faz o favor de mostrar que estamos redondamente enganados, que as nossas suposições são erradas e que apenas queremos destruir as concepções de um universo que foram edificadas segundo padrões que brotaram do cerne da capacidade para divagar pelo universo no interior da mente humana. Será que essas concepções de homens antigos e sábios seriam assim tão incorrectas? Não estaremos a negligenciar uma das maiores capacidades da humanidade e da vida em geral, isto para não afirmar insolentemente que essa capacidade existe muito para além da vida, nas coisas que não vivem duma anima intrincada?
Nós podemos aceder à biblioteca infinita da história do universo que existe na mais ínfima partícula de tudo. Há uma memória impenetrável oculta pela pequenez do conhecimento humano e que permanece, firme e silenciosa, nas órbitas pequenas e velozes dum electrão, na cisões dos neutrões, lembranças do tempo em que o nosso universo era o universo de acontecimentos perdidos que ficaram eternamente ligadas à matéria que venceu a guerra e que originou o tudo onde estamos, que vemos e não vemos, que cheiramos e tocamos, que vivemos através do sétimo sentido. Porque é que recusamos dar credibilidade a essa habilidade nata, que existe devido aos insondáveis desígnios do cosmos e que dispensa qualquer esforço e empenhamento humanos? Porque é que limitamos o nosso conhecimento àquilo que surge directamente da suposta capacidade racional do ser humano, edificada em observações, experimentações, hipóteses e validações? Porque é que não acreditamos no que nos é bondosamente legado pelo sentimento, pelos sentidos e pelo instinto?
É que é a única forma que me parece viável de combater o marasmo e o aborrecimento da forma de construção do conhecimento humano, que obriga a maioria a parar a meio pela incapacidade de acompanhar a maré. O conhecimento é para todos e a melhor forma de isto se efectivar é pela universalização do conhecimento emocional, instintivo, amarrado a anos e anos de combustão estelar, a viagens inacabáveis pelo vazio, até mesmo pela selecção natural, pela evolução, um conhecimento cujo o começo se perdeu na irrecuperável história do universo, é essa a última etapa da demanda do ser humano pela teoria de tudo, o conhecimento nato que evita as fases do velhinho conhecimento científico e que recupera as incompreensões e as razões superiores do velhinho conhecimento metafísico. Esperemos que o homem não se afunde no inferno que existe no fim da demanda pelo conhecimento científico final e se arrependa de ter relegado o lado mágico, sensorial, espiritual, enigmático, misterioso e todos os outros adjectivos com carga indecifrável que conhecemos para o fundo do baú dos paradigmas da história.
Eu começo a despertar lentamente para esse conhecimento que não precisa de conhecimento, que flúi livremente de cada célula viva que existe comigo, dos átomos que cimentam essas células e dos quarks que sustentam os átomos. Eu não preciso me deslocar deste local onde permaneço à tanto tempo que o tempo se transformou em eternidade, eu sinto-o a abordar-me livremente, deixo-o entrar, choro por ele, riu com ele, existo em seu respeito e aprecio a totalidade da experiência universal sem grande esforço. Serei um privilegiado, um escolhido, ou um mero parvo que não despertou para a realidade pelo medo que esta lhe provoca?
Eu começo a despertar lentamente para esse conhecimento que não precisa de conhecimento, que flúi livremente de cada célula viva que existe comigo, dos átomos que cimentam essas células e dos quarks que sustentam os átomos. Eu não preciso me deslocar deste local onde permaneço à tanto tempo que o tempo se transformou em eternidade, eu sinto-o a abordar-me livremente, deixo-o entrar, choro por ele, riu com ele, existo em seu respeito e aprecio a totalidade da experiência universal sem grande esforço. Serei um privilegiado, um escolhido, ou um mero parvo que não despertou para a realidade pelo medo que esta lhe provoca?
Começo a olhar fracamente para o ócio com olhos de ver, e alcanço a estupidez que é o princípio basilar do capitalismo, a obrigação estúpida de ocupar o tempo de forma útil para o benefício de outros que não eu. Sim, o ócio, a ausência de esforço físico, a contemplação do universo sem movimentos incomodativos ou barulhos inconvenientes, para que ele se abra para nós com todo o seu esplendor, para que vivamos a grandiosidade que é fazer parte de algo maior do que a estranha realidade a que chamamos de nossa. Não a quero para mim. Prefiro receber e aceitar com prazer os ensinamentos dos meus antepassados sábios que professavam a existência de um Deus que guiava tudo segundo desígnios proibidos à maioria da humanidade.
Que quantidade formidável de exemplos que a ganância do ser humano pelo conhecimento supostamente lógico destruiu. São tantos e tão importantes que vou limitar a minha vida a esses sentimentos puros e belos, calorosos e confortantes, que limitam a vida a atitudes, comportamentos e ideias simples, inofensivas, alvas do cerne até ao extrínseco. Fui me neste preciso momento.
Esvaziou-se a bateria física que continua a ser a causadora da minha incapacidade de explodir, de desintegrar-me e fundir-me com tudo. Tristeza, tristeza, ainda sou um homem.
quinta-feira, julho 17, 2008
Soluções, baixar os braços, fechar os olhos, entrar em combustão

Fui fraco demais em ter-me revelado a ti através da minha mudez, porque jamais imaginaria que dominavas a capacidade de ler através das linhas do rosto, de te fundires com os traços que definem os estados de alma e atingires a definição máxima de nós próprios. És bárbaro e oco, és mais ambíguo do que o vento e mais volátil do que o ar, em ti toda a coisa do mundo parece banal, parece paisagens etéreas e desprovidas da essência da vida, em ti há o ser dum ditador que morreu há muito e inferniza o teu existir, fazendo com que o teu amor seja bélico, perigoso, atomicamente devastador. E a quem amas, pergunto eu? A ti, a mim, ao céu iluminado ou ao vazio sem luz? Pegaste nas minhas fraquezas e prendeste-as na arca dos sentimento gelados, selaste-a bem selada e mandaste-me para o horizonte de eventos dum buraco negro, na esperança de que eu deixe de ser aquele que te acompanha noite dia, a doce paixão que te alerta para a verdade que recusas reconhecer, sim, eu sou o verdadeiro demónio que atrofia a tua maldade, e faço-o com toda a bondade da terra a irradiar-me das mãos, elas brilham de tal forma que a tua atracção pelo abismo enfraquece, obrigando-te a libertar os fracos que optaram por entregar as suas existências extenuantes a ti, para que os guie para o nada, para o vazio, para o inferno de silêncio das almas fracas que optam por abdicar…. De quê… dá vida, da angústia constante que aumenta de manhã quando o sol se ergue e o corpo repele o repouso da cama. Mas o meu corpo não repele a cama, o meu corpo clama e mal diz a cama, estou ás portas do desespero tal é a indefinição que motiva o meu corpo. Quer repouso e quer agitação, tudo em horas baralhadas, em períodos que não deveria quer, durmo de dia, em duas horas de relaxamento e transbordo-me de energia à noite, longa e silenciosa, para ficar a ver o relógio passar e as estrelas a cruzarem a esfera celestial, cheias de pesar, cheias de dor porque o meu amor está disperso pela incapacidade de relaxar ou reflectir.
Devaneios, devaneios soltos e perdidos que não se aprisionam no fundo da consciência e me obrigam a noites de infâmia e desatino. Licantropia? Será Licantropia, não, não acredito na Licantropia, o lobo que há em mim existe desde sempre, é a herança de minha mãe para o meu sofrimento, para a minha solidão, para a minha incomunicabilidade, para o odio aos seres humanos e para o receio que sinto deles. Choram crianças que quero proteger. Elas são inocentes, não tomaram a cápsula da humanidade que promete a maldade e o egoísmo eternos. Alguém compreender que é esse o segredo que ninguém ousa proferir, a blasfémia máxima assim considerada pelos homens maus.
O términos da luz, é aqui ao meu lado, com pétalas a desprenderem-se das flores e sangue a jorrar dos caules, são momentos atribuídos à graça divina que completam a sobrevivência a preto e branco. Eu não quero acreditar, recuso-me a acreditar e sou jogado a um canto enquanto as pobres flores padecem.
Vou chorar, chorar, chorar de alegria. Vou chorar eternamente em nome da alegria que nunca tive, que sempre recusou contemplar-me, que foge de mim a sete pés sem me contar os motivos que a levam a tomar essa atitude. Eu acredito nos meus olhos que mentem mais do que os homens, que me mostram paraísos inesgotavelmente belos que não existem a não ser na minha imaginação. Mas eu continuo na minha demanda pelos anos-luz de distância que me afundam das minhas irmãs iluminadas, quentes e cansadas. É a única razão para me manter firme a esta terra. Eu solto os ouvidos e ouço o silêncio, e ele guia-me lentamente para o lugar que eu deveria ocupar no espaço sideral, e eu esforço-me por chegar lá, mas há braços e cabeças que aparecem da terra e agarram-me veemente, não me querem deixar partir. Assim eu não consigo rumar a minha vida, enfraqueço e perco as asas que me possibilitariam voar, ohhh, já não sei voar, que maldito fim, tive as asas e esqueci de como hei-de voar.
É esta a minha escuridão, é melhor do que teria sido, fria, sozinha, fraca, presa a aquilo que desejei e não consegui alcançar, deixo os meus olhos para trás e eles encaminham-se para um espelho que me pergunta “vais desistir. Não te vou perdoar e jamais te permitirei o céu, tudo o que consegues tocar é o horizonte e jamais passarás para lá do horizonte”. Foi isso, tive sonhos de voar e voei demasiado perto das estrelas, sou o Ícaro dos tempos modernos que não escutou os avisos silenciosos das almas penadas que me ladeiam soturnas e espectrais.
Crucificaram-me na minha cama, com pregos e tudo, consomem-me a minha energia vital e celebram a minha derrota, frio desfecho. Eu queria ser crucificado à moda antiga, pagar pelos pecados dos outros na mais profunda agonia, queria pregar pela verdade que ninguém encontrará, porque, depois de mim, o silêncio críptico reinara. Já não acredito em quem sou ou no que seria se ascendesse às estrelas. Precisava de unhas para me agarrar à esperança, mas afinal a esperança é líquida e unhas não serviriam de nada, só atrapalhariam. Agora devo nadar e não escalar, falar eternamente para jamais calar. Quero penitenciar-me dos pecados, limpar-me deste destino… Quero que a minha divindade se solte das noções que foram crucificadas pela figura da viúva que chorava por mim enquanto eu decaía ao esquecimento. Estou sem forças. O combate deixou-se exausto, estendido numa cama, sem vontade de dormir, apenas me resta a vontade de voar.
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