segunda-feira, novembro 24, 2008
segunda-feira, novembro 17, 2008
Estrela Furiosa

O som canaliza-se para mim, flúi paulatinamente entre a complexa estrutura atmosférica e esbarra no interior dos meus ouvidos, e no desenredar do ruído ouço o grito das estrelas a morrer. O som reentrou no meu corpo, mas desta vez está próximo demais do cérebro e consigo descodificá-lo, eu sei qual é o som dúbio que se apossou do meu frágil corpo, conheço as razões veladas a cada nota emitida, eu vivo no som e o som vive em mim, somos a simbiose imperfeita das leis do universo diminuídas a relação sonora entre um emissor e um receptor e dessa relação edifica-se um estranho rendilhado de tempo e espaço bem no centro do meu peito, e a reinar nesse tecido bordado pelas aranhas mágicas do universo antigo encontra-se uma estrela moribunda que está pronta a morrer. A sua fúria é ingovernável e o meu corpo é efémero demais para aguentar as forças que o seu descontentamento provocam, mas eu consigo tocar com a ponta dos dedos nos sentimentos mais profundos dessa estrela, que são largados latentemente sem que ela tenha consciência de que os liberta e eu toco-os, acaricio-os, beijo-os com os lábio e beijo-os com as palmas das mãos, e dentro desses sentimentos renegados emerge uma doce sensação de alívio, de paz, de serenidade da qual não me sinto nobre em receber. Porque é que esta estrela, mais submergida em fúria do que a areia coberta pela enchente do mar, liberta serenidade e comiseração no momento da sua morte? Porquê?
São expelidos rugidos que crescem e diminuem e voltam a crescer e a diminuir, e é impossível aguentar a violência desta oscilação estando tão perto do seu âmago, sendo o imo cósmico deste belo e pavoroso feito.Há raios de luz a serem emitidos em todas as direcções e eu próprio desempenho o lugar da estrela na hora da morte, que me escolheu de entre muitos para ser o escudo incerto da sua fúria e guardador da sua serenidade. Os raios trespassam-me e saem à velocidade da luz do meu peito e viajam rapidamente para outros lugares recônditos do universo, são libertadas as camadas exteriores da bomba estrelar, logo após ter-se inflacionado dentro de mim, comigo, inflacionamos os dois para que o caos não se tornasse na realidade da humanidade que é minha vizinha, felizmente para mim, que tenho nas mãos o poder para ver-me livre dela para a eternidade, porém não quero nem os acho com importância para sequer pensar na sua insignificante existência neste momento de loucura. Esqueço-os. As camadas, as camadas externas da estrela quebraram as algemas e partiram em debanda em direcção ao próximo canto que albergará a próxima nova estrela e o próximo novo conjunto de planetas ou a próxima nova nebulosa planetária. A minha estrela em fúria é agora uma super nova e eu sou uma super nova consigo e ambos brilharemos juntamente, mais e mais intensamente do que qualquer outra estrela, e no nosso centro há um acumular enigmático de matéria que se adensa tão rapidamente, tão ligeiramente que destruiu o cofre de sentimentos negros que eu mantinha lacrado no centro do peito, sentimentos que levei eras a amaldiçoar e que me amaldiçoaram posteriormente, a partir do momento em que saíram do coração para ocupar o vazio que existe na minha mente, e agora fundem-se com a matéria densa que ficou exposta no momento em que as camadas exteriores da estrela se projectaram para o infinito. A fusão ocorre, e a uma intensidade desconcertante, fundem-se, fundem-se, e a estrela voltou a fundir, mas desta vez não funde hidrogénio em hélio, nem hélio em carbono, nem carbono em oxigénio…. Está a fundir a matéria extremamente densa da estrela, o seu centro, com sentimentos excessivamente densos do cofre do meu coração e a densidade está a atingir o ponto critico, não há volta a dar… os raios de luz estão a encurvar-se e a voltar à esfera de matéria densa e sentimento negro, passam pelo seu interior, são sujeitos a uma incrível transformação e voltam a ser emitidos e são-no repletos em electromagnetismo, raios púrpura são emitidos dos raios que foram capturados… Mas que raios são estes, que foram sujeitos ao peso do centro denso da estrela e dos sentimentos negros que guardava piamente no cofre do meu coração? Que género de efeitos provocarão no tempo espaço e que consequências terão para o despoletar de novos acontecimentos cósmicos que até então pura e simplesmente não existiam… O casamento entre um buraco negro cósmico e um buraco negro humano. Olhem-nas, que em tempos foram as explosões de raios gama, já não são iguais, há nelas um peso, uma dor, uma angústia, um ódio pelo nascimento e pelo renascimento que ocorre a cada minuto no universo. Será… Serão estes os raios que, depois de cozinhados a altas temperaturas no centro duma estrela moribunda que preferiu morrer num interior dum homem moribundo, tomarão o lugar de cocheiros do coche maldito que trará o tão aguardado fim ao universo através da destruição da matéria conhecida e desconhecida, da total desregulação das forças que o sustentam, da consumição da luz…. Da eterna escuridão. -------------------------
segunda-feira, novembro 03, 2008
A palavra que esconde a minha história
Subscrever:
Mensagens (Atom)