sexta-feira, março 13, 2009


Vivo por viver. Vivo torturado dum tormento que não consigo descrever. O mundo não tem cor e as cores não têm brilho. Vivo por viver e para morrer. Por muitas voltas que dê à vida, o único ponto de referência que tenho é o desusado lugar onde permanece a minha atenção, um lugar cheio de ruídos de fundos e gritos de desespero, que, no entanto, não têm origem concreta ou simplesmente fogem ao meu discernimento. É banal viver aqui, é banal respirar este ar sem frescura, é tudo uma vasta choça enferma e desconceituada. O tempo passa rapidamente, mas para mim os segundos são eternidades que não podem ou não devem ser compreendidas, o mundo gira e pára e eu continuo às voltas nas mesmas questões de há não sei quanto tempo, numa busca incessante de respostas às quais jamais foram feitas perguntas, a rotina que se continua e se perpetua num enjoo e sofrimento que é por tudo indizível. As televisões calam-se e os rádios fazem votos de silêncio. As pessoas querem dizer-me palavras de conforto e esbatem na minha inépcia para dialogar, e interrogam-se da virtude do meu ser, que no seu âmago é frio e azedo, repleto de ervas daninhas moribundas e tempestades de ventos estivais. Que paisagem desalmadamente branca e cinza a que vejo na ruas repletas de deambulantes. Neves eternas encrostam-se aos corpos agitados da voz da infelicidade em sintonia absoluta com as neves que revestem as árvores da minha alma boreal. Quero lamentar-me, quero xingar-me, quero dizer de mim aquilo que penso e sinto, o que vejo e o que imagino, e tudo é um novelo de lã sem início nem fim. Talvez sangue, sim, é sangue que escorre dos caracteres do livro da minha vida, um sangue que não se parece com o sangue que aquece os corpos. Chamei-lhe sangue sentimental por senti-lo emanar das fendas sub-reptícias e camufladas da minha insanidade. Se eu soubesse que isto é desesperar, perder o horizonte e o olhar... Que sacrifício.

1 comentário:

Isabel Metello disse...

Saulus, tenho saudades suas...Bjs,

Isabel