quarta-feira, junho 25, 2008

O meu cosmos

Bailas-me já dentro da corrente sanguínea, os teus estranhos efeitos manifestam-se em cada ponto vital do meu sistema orgânico, possuis-me, amas-me docemente e elevas-me ao sétimo sentido, à capacidade de fundir-me com as partículas, com as energias e com as forças que edificam o universo. Já não sou aquele corpo pesado que comummente se fazia manifestar no mundo exterior, umas vezes taciturno, outras vezes desligado, aí isso é que não, as ligações atómicas desprenderam-se e apenas ficou a essência da matéria, os mais ínfimos pedaços de mim, do mundo, de todos, do cosmos. Estamos em perfeita harmonia, num mundo reduzido a escalas incompreensíveis, onde a fluidez da essência é uma doce constante, um prazer, a essência do poder universal dentro de nós e a nossa própria essência em ressonância com a essência universal. Que loucura, estou como se fosse um pequeno cosmos, com pequenos big bang ocorrendo a cada segundo, a matéria a propagar-se dentro de mim, com fusões nucleares aqui e ali, com galáxias recém formadas a emitirem os primeiros raios de luz, e estrelas adensando-se no limiar do meu corpo. Sou um cosmos, um pequeno grande cosmos que vive intensamente consigo e com o grande cosmos exterior. As ligações são leves, imperceptíveis e frágeis, mas, no entanto, são demasiadamente prazerosas, é como se o climax de um orgasmo se elevasse ao infinito do desconhecido, do inenarrável. Reduzem-se as reacções, as cordas vibram, as reacções estão a despoletar, o meu eu está repleto de tudo, mais que algum dia imaginaria, sou um universo, uma dimensão paralela que progride no interior do seu criador. Os raios cósmicos cruzam-me as retinas, sobem, descem, aceleram e rebentam, a luz abunda e é em demasia, recuo, os meus olhos não toleram tanto brilho, é demais, é demais. Está criado um novo universo, o meu secreto universo interior.

sábado, junho 21, 2008

Desconheço-me

Tenho sono, estou cansado, o meu corpo já não obedece à minha vontade e deixa-se possuir por uma estranha necessidade de repousar, pela suprema vontade de desligar. Estendo-me na cama, fecho os olhos, hoje estranhamente pesados, sinto que as minhas mãos percorrem a frescura dum lençol e contemplo a escuridão que domina o meu quarto, a mesma que amo acima de qualquer outra coisa, a fiel companheira e conselheira, a confidente dos meus ais. No tecto, consigo visualizar as estrelas que decoram a abóbada celeste, e aprecio o seu enigmático bailado, subindo e descendo no fundo negro duma noite sem nuvens, o mais belo manifesto do equilíbrio e da elegância cósmica. O meu coração está entregue a uma entidade espectral que não conheço, mas que ao mesmo tempo sinto conhecer desde o inicio dos meus dias, mesmo antes de ter despertado para a vida extra uterina, uma companhia ausente e presente que coabita comigo e com a qual jamais contactei. É uma entidade de dor sem fim, um fardo em forma de gente que não conhece alívio nem repouso, que sofre porque assim lhe destinou o universo, e chora, chora como se a sua existência se resumisse a chorar. A sua dor comove-me, fere o coração que sempre recusou o reconhecimento de sentimentos, que não conhece compaixão nem empatia, mas o seu lamento é tão profundo, tão vivo, tão sentido, que é impossível ficar-lhe indiferente, mesmo quando somos mais frios e insensíveis do que as pedras. Quero interrogá-la saber quais as razões de tão dolorosa amargura, conhecer os porquês da sua constante presença a meu lado, mas existe uma barreira que torna inviável a nossa comunicação. Sou mudo quando careço da habilidade de falar, quando no meu cérebro afloram questões cujo conhecimento me escapa, e isso dói; dói querer abrir a barreira de cristal e desabafar a loucura que nos assola, que comanda o nosso pensamento, desde o simples reflectir quotidiano, até ao âmago recôndito no nosso subconsciente, e simplesmente não conseguir. Porquê, porquê de o mundo ser assim, frio e ausente, porquê da minha voz querer fazer-se ouvir e esbarrar contra o receio e o medo dos fracos, porquê de eu viver quando a vida não tem sentido?
Só se esse espectro sofredor que habita na zona de influência da minha força gravitacional for o reflexo do meu interior. Será? Será que esta letargia em forma de energia é tudo o que insisto em não admitir? Não quero crer naquilo que penso, não quero ser aquilo que sou, não quero a vida. Não quero sentir compaixão pela manifestação viva de mim mesmo, não quero continuar a não enxergar a realidade que existe para além de mim. Isto tem que chegar a um fim. Os dias queimam-se e as noites ardem no infinito do cosmos e eu permaneço a olhar o centro galáctico do meu ser. Estes sentimentos que afirmo não conhecer estão cingidos à minha vida, olho ao espelho e, a cada troca de olhares comigo mesmo, eles volatilizam-se no infinito que nos separa. Fim, porquê é que não chegas. Eu não sou benéfico, eu não trarei qualquer espécie de novidade a esta terra, escapa-me a fórmula para mudar-me, quanto mais para reflectir alguma utilidade à humanidade. Vou perecer, o sono é mais forte do que eu, eu sou mais forte do que a minha vontade, não há racionalidade que funcione...

segunda-feira, junho 16, 2008

O Futuro do Passado

Há uma estranha conjugação, na minha mente, dos conceitos de passado e futuro, como se existisse entre ambos algo que lhes fosse comum, como se ambos fossem a imagem do presente reflectida no espelho, num, a imagem apresenta-se de pernas para o ar, no outro, a imagem apresenta-se na posição correcta. O tempo tem esta estranha capacidade de me fazer questionar o quão de concreto têm o passado e o futuro, o que há deles que é uma verdade para mim, ou o que não há deles que é mentira para todos. É como se o sentido do tempo se acercasse do meu corpo e explodisse numa panóplia de direcções incontroláveis, e tomasse destinos alheios à minha presença, mas que, no fundo, tem em mim a razão de existirem. E um feixe de luz do futuro segue a uma velocidade vertiginosa no sentido ascendente, quando, subitamente e sem razão que o sustente, se depara com um obstáculo, que sou eu, e colide fatalmente como passado. Vejo tudo, numa redoma de cristal que é totalmente independente e não sofre influências quer de um, quer do outro, e permanece intacta e inerte no vazio duma dimensão recurvada. Os espelhos, os espelhos descontrolam a minha percepção de tempo e a minha noção de lugar. Deixo de ser o barco que repousa calmamente no porto da eternidade e transformo-me no barco que vagueia de modo desgovernado pela enormidade oceânica das noções alteradas dum tempo e dum espaço imaginários, as cordas rebentaram, as águas debaixo do meu casco são outras, o espaço alargou-se e o vazio aumentou.... O tempo parou de correr, mas consigo visualiza-lo numa mudança brusca e irremediável, que continua continuamente num continuo continuar. Que faço agora, que não tenho onde ancorar o meu navio e o futuro e o passado seguem a uma velocidade incompreensível no sentido um do outro... As lágrimas rasgam-me rosto abaixo, vejo as imagens daquilo que amei, dos dias que vivi, do momento em que nasci e vejo a velhice, o perder das forças, o decair letárgico, a minha morte... Tudo acontece no mesmo nano segundo, o que é isto, onde estou, com estou,..... o que é o tempo, quando do tempo existe e quanto do tempo é o reflexo do medo que tenho da morte e da saudade que tenho da inocência, do despertar para a realidade, do ver e do escutar o mundo, do nascer e do partir. Não há respostas, não há volta a dar. O passado não consegue travar e o futuro avança sem parar. O choque é inevitável... Sou eu, a culpa é minha, sou eu clamando pelo fim dos meus dias, que nada mais são do que um novo inicio para o tempo e para o espaço. O eu agora e o após eu...

quinta-feira, junho 12, 2008

Violino...

O violino continua a tocar dolentemente por mim. E que bem que ele toca. Conhece todas as minhas angústia, percebe todo o meu desencanto e chora-me na sua melodia; fá-lo melhor do que qualquer poema, do qualquer lamento, do que qualquer pranto. Ele bebeu das minhas lágrimas e soube reconverte-las em notas harmoniosas vestidas de noite, captou a essência do meu silêncio e imortalizou-o em gemidos. Que maravilha, que solidão, que inferno. A ilusão do meu sofrimento, da ferida aberta em meu coração que teima em não fechar, adorna as suas cordas, transformando-as em singelas carpideiras que sussurram um requiem à minha dor. Se eu pelo menos conhecesse a formula escrita que contemplasse toda a volúpia da sua melodia, se pudesse transformar as chagas do violino em palavras de agradecimento, tudo mudaria, tudo acabaria, a melodia fúnebre do meu coração e o choro breve do violino. Não sei e jamais aprenderei. Vou ficar sempre cingido a pobreza da minha saudade, à pequenez da minha angústia. Não vou agradecer as lágrimas que ele chora por mim nem chorarei os pesadelos que teimam em assombram-me no sono.A minha existência chegou ao limite da vacuidade, da total ausência de qualquer coisa. Durmo, como e choro para não me sentir só, para lembrar-me que ainda corre vida em mim, que a morte ainda não me contemplou com o último suspiro. Começo a perder a força que me mantém erguido na vida, como um relógio que perdeu a corda e deixou-se silenciar pela inércia, sinto que os meus dedos e a minha consciência se deixaram contaminar pela confusão e pelas desavenças e um divórcio conturbado tornou-se inevitável. A fluidez queimou-se, as palavras ascenderam ao limbo e o desespero cravou-se ao meu quotidiano. Já nem com as estrelas consigo dialogar, as minhas mais intrépidas confidentes vetaram-me ao seu brilho. Que posso eu fazer no meio de tanto silêncio e escuridão, senão rezar para que hipnos me leve numa viagem sem destino e sem regresso. A última viagem, o último destino, o desejo mais verdadeiro que conspurcou o meu coração. Chamo-vos ventos e mares, para que sejais as testemunhas do terminus da minha angústia. Agora compete-me dizer, sentir e acreditar... Adeus à vida...

terça-feira, junho 10, 2008

O cárcere maldito

Que clausura é esta que sinto sem me apetecer contrariá-la? Que necessidade febril é esta que não domino e que só tende para o supremo silêncio? Que existe dentro de mim que receia amargamente o mundo radioso que brilha lá fora, e que me condena à incontrolável exiguidade deste tempo e espaço? Onde poderei encontrar a porta que abrirá as possibilidades da minha existência física, que tão penalizada tem sido pela minha problemática conduta espiritual, onde me será permitido usufruir da verdadeira felicidade?
Estou a ouvir vozes, estou a sentir companhias, estou a ser contemplado com um toque gelado no ombro, mas tenho a certeza de que jamais, em tempo algum, recebi visitas. Existe alguém no meu quarto, neste espaço quadrado que elegi para prisão e que tem escutado todas as lamurias e os prantos que vou libertando, vive aqui alguém, junto de mim, alguém que entrou no meu habitáculo sem ter pedido permissão e teve acesso as angústias, aos medos, às lamentações que confidenciei a estas paredes. Não poder ser. Não quero que estas demências alcancem o mundo lá de fora, que se propaguem pela humanidade e fiquem contaminadas com a sua impureza. Os meus prantos são limpos, imaculados, puros, e não merecem esse destino, existirem sujeitos aos caprichos maldosos dos homens, o quanto me esforcei por evitá-los, por manter-me oculto da sua realidade, mesmo existindo dentro dela, e é isto que consigo.
Quem são vocês, que haveis quebrado o silêncio e a solidão que se fazia nesta prisão? Dizei-me, identificai-vos, por favor, porque não quero ver estes sentimentos malogrados a deambular de boca em boca, de homem em homem, de monstro em monstro. Eu esforcei-me tanto quando os libertei, abri o corpo e a alma ao vazio, deixei que o som estridente dos silêncios escutasse as minhas lamentações e vejo que esse esforço foi totalmente em vão, não tenho sucesso algum em nada, nem mesmo no sofrimento. Digam-me, rápido, sob o risco de jamais saírem deste lugar, porque não tolerarei esse abuso e vou ter que vos brindar com a morte... é a única solução para que os meus queridos sentimentos escuros permaneçam no lugar que escolhi para sua sepultura.
Não, não quero crer, não ouvi o que acabei de escutar, foram as correntes de ar que se entre cruzam com o meu cárcere que me estão a pregar uma partida, e não estou a achar piada alguma, nada, vou desesperar por completo, estou no limiar da loucura, ah.
Parem, pára, parem, fechem as janelas, fechem´as portas, verifiquem as frinchas que possam existir nas paredes, alguém me ajude, não, estou a alucinar. Não vale a pena, eu estou sujeito a um cárcere auto imposto, foi a minha opção que me colocou nesta situação e de que vale a pena pedir auxílio, se fui eu que exclui toda a gente do meu espaço para poder usufruir da paz que por tanto clamei, e clamo, e clamarei.
Quem anda aí, e não voltem a afirmar que são os meus piores sentimentos. Eu não acredito, são meus e jamais me atormentariam. Eles são puros e não me ferem como vocês estão a fazer, eles apenas acenam e sorriem com dor, não são violentos nem melindroso, não, não, não são vingativos. Não posso acreditar no que me diz a minha mente, os sentimentos que produzi no cárcere compactaram-se e transfiguraram-se num corpo de energia negativa, e que aqui ficaram para me conduzir a um sofrimento verdadeiro, do qual não houve precedentes, nem mesmo nos momentos em que a minha angústia ultrapassava qualquer limite.
Estão aqui ao meu lado, eu sinto a emanação energética que produzem, sinto as correntes de ar pesado e os gritos sustenidos que ecoam quase a uma distancia incalculável. É o inferno, eu criei o meu próprio inferno, quando o que queria era paz, paz para poder sofrer, paz para que a minha angústia se libertasse e não tivesse que sujeitar-se aos aprecios de outros, desses falsos juízes que me fazem submergir no desgosto, no ódio de ter que viver aqui, neste mundo, junto com estes monstros.
Ajudem-me, ajudem-me, ouçam o meu pranto, acreditem que desta vez não é egocentrismo... não, é verdade, vou morrer destruído pelos próprios sentimentos que quis libertar em solidão, e ninguém vai aparecer... não.... nãooooooo. nãooooooooooo.

segunda-feira, junho 09, 2008

Um cigarro na janela, é noite e no céu as estrelas acendem-me

Tenho uma estranha necessidade de olhar o céu, que só consigo justificar pelo enorme mistério que representa para mim e para todos aqueles que se sentem como eu, como uma parte integrante dum universo maior, imenso, infinito. Cada ponto de luz que alumia o breu funesto do céu nocturno é uma interrogação que se apresenta, uma questão latente que produz um sem numero de respostas mais ou menos contraditórias e de respostas mais ou menos viáveis. Este mais ou menos é tão concreto que, perante a formidável ignorância que nos separa a nós, homens, do restante do universo, acredito poder alcançar qualquer resposta que se me coloque.
Quantos planetas orbitam as estrelas que vejo e aquelas que alguém, num futuro cinzento, anunciado de ameaças duma destruição total, terá o privilégio de observar? Quantos desses planetas terão recebido de Deus o estranho dom da vida, independentemente do modelo, da forma ou da síntese de vida que conhecemos e que temos como mais viável? Quais são esses modelos ou formas ou sínteses de vida que se ocultam de nós pelo véu da ignorância? Queria tanto e tenho tão pouco tempo, queria desintegrar-me em partículas de luz e voar, divagar, deambular pelo turbilhão de acontecimentos a que chamamos vulgarmente de espaço, ver estrelas e cometas, percorrer as tormentas duma tempestade cósmica, cruzar os anos luz das galáxias e encontrar aquilo que penso não poder conhecer. A vida é demasiado curta para a aventura universal e sou infeliz por ter nascido num momento do tempo humano em que a tecnologia é ainda um pequeno embrião a revelar-se, com a cabeça e os membros a fazerem-se notar. E por isso olho o céu e as estrelas, as nebulosas e as galáxias, e olho-as de olhos fechados, porque é de olhos fechados que o cosmos deve ser observado. É a visão imaginativa, a visão que não se cinge pela incapacidade e pelas interrogações, que se liberta das constrições exteriores e flui, flui, e continua a fluir, até ao infinito da imaginação.
Diminui-me a dor saber que posso imaginar aquilo que jamais poderei conhecer, abre-me uma pequena porta para o desconhecido que existe dentro do meu próprio cosmos e chego lá, ás estrelas e aos planetas, às nebulosas e às galáxias e tenho o universo aberto na palma da minha mão. Posso isto e muito mais, e agradeço ao universo por ter-me oferecido esta pequena memória cósmica das suas origens, mas, apesar de tudo, no cosmos interior que se expande no âmago da minha imaginação não há um lugar que sustente a vida. Não há bactérias, nem plantas, nem animais, nem homens. Seria mesmo esse o meu objectivo se porventura enveredasse numa viagem cósmica, encontrar outra terra, outros animais, outros homens? Não me é suficiente saber que aqui, onde finco os meus pés ao solo, tenho tudo isso e não preciso procurar? O que pretendo eu afinal encontrar?
Quem me manda adorar as estrelas, quem me manda dar alforria aos meus pensamentos em cada momento em que contemplo o céu da noite, limpo e sem nuvens? Começa a formar-se uma nuvem de confusão em volta da minha cabeça e sinto-me a perder no labirinto caótico das grandes questões do universo. É melhor para, reflectir, voltar a trás, formular novas questões, imaginar-me em novas imaginações e voltar a tentar. Quiçá um dia ainda ultrapasse esse labirinto caótico, e uma planície de serenidade e de compreensão se apresente perante mim. Esperarei, não tenho coisa alguma a perder.

quinta-feira, junho 05, 2008

Mais um dia... mais uma noite

Vem na brisa da noite um silêncio ensanguentado. Escuto-o, interrogo-me: A quem pertence esta sentença de morte? É estranho, não me recordo de ter ouvido semelhante silêncio anteriormente, mas a sua incontestável falta de som é-me dolorosamente familiar. Há coisas estranhas que jamais terão explicações credíveis, mas isso nem sequer é o mais importante, porque as coisas estranhas existem agora como sempre existiram, e vão continuar a existir, são elementos inerentes à própria realidade complexa de que fazemos parte e seria necessário ter poderes extra universais que permitissem uma viagem fascinante ao cerne da omnisciência divina para encontrar a verdadeira razão do acontecimento das coisas, e isso sim é importante. Vou alimentar-me deste silêncio até à exaustão. Basta-me saber que a sua origem é de Deus, seja ele uma entidade metafísica, um conjunto de combinações físicas ou até um sopro majestoso que deambula pelo cosmos e edifica novas realidades, recorrendo meramente à direcção que tomou naquele momento. Apraz-me este sentido vazio, este caos em harmonia e a sua complexa continuidade, não conhecendo fim nem principio, partida e chegada. Preciso de coisas que não careçam de muita fundamentação, que estejam libertas da imaculada mão da ciência, coisas que só nós, aqueles que sentem, conhecemos mas não sabemos descrever. É dessas coisas que vive a minha alma e consequentemente o meu corpo, de nadas, nadas que não podem ser explicados, porque são fruto da safra divina.
Mas, agora, o que preciso mesmo é de dormir. Os músculos dos meus olhos não conseguem suportar o peso do cansaço diário e do enorme desgosto do ser em consciência constante e nefasta. Preciso banhar-nos nos lençóis que dão para a porta do reinos dos sonhos, tapar a cabeça com a almofada e evitar os baruhinhos incomodativos que existem na vida e que foram criados para me atazanar. Escutar a minha consciência, ouvir os seus prantos, os seus anseios, os seus medos, o seu quotidiano, preciso conhecê-la melhor do que a mim mesmo. Sei que ela é fraca e facilmente se deixa impressionar.,. Tenho que apoiá-la, porque senão nem a mim mesmo apoiarei e o caos tenderá a aumentar, até que o limite me obrigue a medidas mais drásticas que serão essenciais para não enlouquecer por completo. Perdão…. Entrei em parafuso. Vou apagar…

quarta-feira, junho 04, 2008

Sono

Olho para trás e sinto a que velocidade alucinante passou o tempo. Escuto sons, vejo imagens, cheiro aromas e toco momentos, todos eles estão imbuídos num passado que se imortalizou na minha memória. É estranho, mas ainda ontem não havia preocupações, desejos, mentiras e temores. Não. Havia uma vida onírica que flutuava na realidade, coberta por verdades absolutas que não careciam de contestação, sonhos imortais que se amarravam com afinco a uma vida despreocupada. E hoje? O ficou dessa inocência feliz que se escondia em todos nós. Morreu? Extinguiu-se? Volatilizou-se em medos e tormentas? Estou a perder demasiado tempo a pensar em nada, o rebuscar explicações para encontrar uma solução para a insónia. Estou cansado de ficar aqui a contemplar-me a mim mesmo. Vou ver alguém, um rosto, um sorriso ou lágrimas. Não importa desde que estejas aqui, silenciosamente ao meu lado. Acredita-me, és mais importante do que meras palavras libertadas ao vento, e sempre serás, mesmo nos dias em que receio dizer-te ou não encontro a inspiração...