segunda-feira, junho 09, 2008

Um cigarro na janela, é noite e no céu as estrelas acendem-me

Tenho uma estranha necessidade de olhar o céu, que só consigo justificar pelo enorme mistério que representa para mim e para todos aqueles que se sentem como eu, como uma parte integrante dum universo maior, imenso, infinito. Cada ponto de luz que alumia o breu funesto do céu nocturno é uma interrogação que se apresenta, uma questão latente que produz um sem numero de respostas mais ou menos contraditórias e de respostas mais ou menos viáveis. Este mais ou menos é tão concreto que, perante a formidável ignorância que nos separa a nós, homens, do restante do universo, acredito poder alcançar qualquer resposta que se me coloque.
Quantos planetas orbitam as estrelas que vejo e aquelas que alguém, num futuro cinzento, anunciado de ameaças duma destruição total, terá o privilégio de observar? Quantos desses planetas terão recebido de Deus o estranho dom da vida, independentemente do modelo, da forma ou da síntese de vida que conhecemos e que temos como mais viável? Quais são esses modelos ou formas ou sínteses de vida que se ocultam de nós pelo véu da ignorância? Queria tanto e tenho tão pouco tempo, queria desintegrar-me em partículas de luz e voar, divagar, deambular pelo turbilhão de acontecimentos a que chamamos vulgarmente de espaço, ver estrelas e cometas, percorrer as tormentas duma tempestade cósmica, cruzar os anos luz das galáxias e encontrar aquilo que penso não poder conhecer. A vida é demasiado curta para a aventura universal e sou infeliz por ter nascido num momento do tempo humano em que a tecnologia é ainda um pequeno embrião a revelar-se, com a cabeça e os membros a fazerem-se notar. E por isso olho o céu e as estrelas, as nebulosas e as galáxias, e olho-as de olhos fechados, porque é de olhos fechados que o cosmos deve ser observado. É a visão imaginativa, a visão que não se cinge pela incapacidade e pelas interrogações, que se liberta das constrições exteriores e flui, flui, e continua a fluir, até ao infinito da imaginação.
Diminui-me a dor saber que posso imaginar aquilo que jamais poderei conhecer, abre-me uma pequena porta para o desconhecido que existe dentro do meu próprio cosmos e chego lá, ás estrelas e aos planetas, às nebulosas e às galáxias e tenho o universo aberto na palma da minha mão. Posso isto e muito mais, e agradeço ao universo por ter-me oferecido esta pequena memória cósmica das suas origens, mas, apesar de tudo, no cosmos interior que se expande no âmago da minha imaginação não há um lugar que sustente a vida. Não há bactérias, nem plantas, nem animais, nem homens. Seria mesmo esse o meu objectivo se porventura enveredasse numa viagem cósmica, encontrar outra terra, outros animais, outros homens? Não me é suficiente saber que aqui, onde finco os meus pés ao solo, tenho tudo isso e não preciso procurar? O que pretendo eu afinal encontrar?
Quem me manda adorar as estrelas, quem me manda dar alforria aos meus pensamentos em cada momento em que contemplo o céu da noite, limpo e sem nuvens? Começa a formar-se uma nuvem de confusão em volta da minha cabeça e sinto-me a perder no labirinto caótico das grandes questões do universo. É melhor para, reflectir, voltar a trás, formular novas questões, imaginar-me em novas imaginações e voltar a tentar. Quiçá um dia ainda ultrapasse esse labirinto caótico, e uma planície de serenidade e de compreensão se apresente perante mim. Esperarei, não tenho coisa alguma a perder.

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