terça-feira, junho 10, 2008

O cárcere maldito

Que clausura é esta que sinto sem me apetecer contrariá-la? Que necessidade febril é esta que não domino e que só tende para o supremo silêncio? Que existe dentro de mim que receia amargamente o mundo radioso que brilha lá fora, e que me condena à incontrolável exiguidade deste tempo e espaço? Onde poderei encontrar a porta que abrirá as possibilidades da minha existência física, que tão penalizada tem sido pela minha problemática conduta espiritual, onde me será permitido usufruir da verdadeira felicidade?
Estou a ouvir vozes, estou a sentir companhias, estou a ser contemplado com um toque gelado no ombro, mas tenho a certeza de que jamais, em tempo algum, recebi visitas. Existe alguém no meu quarto, neste espaço quadrado que elegi para prisão e que tem escutado todas as lamurias e os prantos que vou libertando, vive aqui alguém, junto de mim, alguém que entrou no meu habitáculo sem ter pedido permissão e teve acesso as angústias, aos medos, às lamentações que confidenciei a estas paredes. Não poder ser. Não quero que estas demências alcancem o mundo lá de fora, que se propaguem pela humanidade e fiquem contaminadas com a sua impureza. Os meus prantos são limpos, imaculados, puros, e não merecem esse destino, existirem sujeitos aos caprichos maldosos dos homens, o quanto me esforcei por evitá-los, por manter-me oculto da sua realidade, mesmo existindo dentro dela, e é isto que consigo.
Quem são vocês, que haveis quebrado o silêncio e a solidão que se fazia nesta prisão? Dizei-me, identificai-vos, por favor, porque não quero ver estes sentimentos malogrados a deambular de boca em boca, de homem em homem, de monstro em monstro. Eu esforcei-me tanto quando os libertei, abri o corpo e a alma ao vazio, deixei que o som estridente dos silêncios escutasse as minhas lamentações e vejo que esse esforço foi totalmente em vão, não tenho sucesso algum em nada, nem mesmo no sofrimento. Digam-me, rápido, sob o risco de jamais saírem deste lugar, porque não tolerarei esse abuso e vou ter que vos brindar com a morte... é a única solução para que os meus queridos sentimentos escuros permaneçam no lugar que escolhi para sua sepultura.
Não, não quero crer, não ouvi o que acabei de escutar, foram as correntes de ar que se entre cruzam com o meu cárcere que me estão a pregar uma partida, e não estou a achar piada alguma, nada, vou desesperar por completo, estou no limiar da loucura, ah.
Parem, pára, parem, fechem as janelas, fechem´as portas, verifiquem as frinchas que possam existir nas paredes, alguém me ajude, não, estou a alucinar. Não vale a pena, eu estou sujeito a um cárcere auto imposto, foi a minha opção que me colocou nesta situação e de que vale a pena pedir auxílio, se fui eu que exclui toda a gente do meu espaço para poder usufruir da paz que por tanto clamei, e clamo, e clamarei.
Quem anda aí, e não voltem a afirmar que são os meus piores sentimentos. Eu não acredito, são meus e jamais me atormentariam. Eles são puros e não me ferem como vocês estão a fazer, eles apenas acenam e sorriem com dor, não são violentos nem melindroso, não, não, não são vingativos. Não posso acreditar no que me diz a minha mente, os sentimentos que produzi no cárcere compactaram-se e transfiguraram-se num corpo de energia negativa, e que aqui ficaram para me conduzir a um sofrimento verdadeiro, do qual não houve precedentes, nem mesmo nos momentos em que a minha angústia ultrapassava qualquer limite.
Estão aqui ao meu lado, eu sinto a emanação energética que produzem, sinto as correntes de ar pesado e os gritos sustenidos que ecoam quase a uma distancia incalculável. É o inferno, eu criei o meu próprio inferno, quando o que queria era paz, paz para poder sofrer, paz para que a minha angústia se libertasse e não tivesse que sujeitar-se aos aprecios de outros, desses falsos juízes que me fazem submergir no desgosto, no ódio de ter que viver aqui, neste mundo, junto com estes monstros.
Ajudem-me, ajudem-me, ouçam o meu pranto, acreditem que desta vez não é egocentrismo... não, é verdade, vou morrer destruído pelos próprios sentimentos que quis libertar em solidão, e ninguém vai aparecer... não.... nãooooooo. nãooooooooooo.

1 comentário:

sombra e luz disse...

lunae...;) acorde... está a ter um pesadelo... já passou...;)

Vê?... está tudo tranquilo... acendo as luzes... tudo no sítio... pensamentos, sentimentos, tormentos e novos rebentos, cada qual no seu lugar... à sua espera... agora descanse! devolvo-o às sombras... não me vê, mas estou aqui, guardo-lhe o sono esta noite, seguro-lhe o saco dos pecados, lembra-se?... descanse... volte a sonhar, mas com coisas boas... as outras que também aqui estão no seu quarto, mas que não se vêem nem com luz nem nas sombras porque estão dentro do seu coração na palma da sua mão...

respire fundo... e bora lá, sorria-me...;)