quinta-feira, junho 12, 2008

Violino...

O violino continua a tocar dolentemente por mim. E que bem que ele toca. Conhece todas as minhas angústia, percebe todo o meu desencanto e chora-me na sua melodia; fá-lo melhor do que qualquer poema, do qualquer lamento, do que qualquer pranto. Ele bebeu das minhas lágrimas e soube reconverte-las em notas harmoniosas vestidas de noite, captou a essência do meu silêncio e imortalizou-o em gemidos. Que maravilha, que solidão, que inferno. A ilusão do meu sofrimento, da ferida aberta em meu coração que teima em não fechar, adorna as suas cordas, transformando-as em singelas carpideiras que sussurram um requiem à minha dor. Se eu pelo menos conhecesse a formula escrita que contemplasse toda a volúpia da sua melodia, se pudesse transformar as chagas do violino em palavras de agradecimento, tudo mudaria, tudo acabaria, a melodia fúnebre do meu coração e o choro breve do violino. Não sei e jamais aprenderei. Vou ficar sempre cingido a pobreza da minha saudade, à pequenez da minha angústia. Não vou agradecer as lágrimas que ele chora por mim nem chorarei os pesadelos que teimam em assombram-me no sono.A minha existência chegou ao limite da vacuidade, da total ausência de qualquer coisa. Durmo, como e choro para não me sentir só, para lembrar-me que ainda corre vida em mim, que a morte ainda não me contemplou com o último suspiro. Começo a perder a força que me mantém erguido na vida, como um relógio que perdeu a corda e deixou-se silenciar pela inércia, sinto que os meus dedos e a minha consciência se deixaram contaminar pela confusão e pelas desavenças e um divórcio conturbado tornou-se inevitável. A fluidez queimou-se, as palavras ascenderam ao limbo e o desespero cravou-se ao meu quotidiano. Já nem com as estrelas consigo dialogar, as minhas mais intrépidas confidentes vetaram-me ao seu brilho. Que posso eu fazer no meio de tanto silêncio e escuridão, senão rezar para que hipnos me leve numa viagem sem destino e sem regresso. A última viagem, o último destino, o desejo mais verdadeiro que conspurcou o meu coração. Chamo-vos ventos e mares, para que sejais as testemunhas do terminus da minha angústia. Agora compete-me dizer, sentir e acreditar... Adeus à vida...

2 comentários:

sombra e luz disse...

vim dar-lhe corda...;)

mas não estique demasiado... olhe que toda a meestria de um violino está na perfeita distensão no seu arco, da crina de um cavalo correndo ao vento humida das lágrimas de um homem, perdido na noite e no seu galope...

Agarre-se à música, aos seus acordes... e acorde...;) devagarinho, é só o tempo a correr... e você a aprender a viver...

beijos lobinho...;)

Saulus from Inner Space disse...

Obrigado pela corda. Estava mesmo com os meus movimentos reduzidos ao mínimo possível, no intuito de manter alguma energia para aguentar as poucas horas que me restam até ao milagroso fim de semana. Essa dicotomia tempo a correr/ eu a aprender a viver é ainda mais deprimente do que tudo o resto. Imagine, quando der por terminada a minha formação em aprender viver, o relógio termina definitivamente e vou desta para melhor. Que chatice. Tantos anos de formação para jamais fazer-se uso daquilo que aprendemos...