segunda-feira, junho 16, 2008

O Futuro do Passado

Há uma estranha conjugação, na minha mente, dos conceitos de passado e futuro, como se existisse entre ambos algo que lhes fosse comum, como se ambos fossem a imagem do presente reflectida no espelho, num, a imagem apresenta-se de pernas para o ar, no outro, a imagem apresenta-se na posição correcta. O tempo tem esta estranha capacidade de me fazer questionar o quão de concreto têm o passado e o futuro, o que há deles que é uma verdade para mim, ou o que não há deles que é mentira para todos. É como se o sentido do tempo se acercasse do meu corpo e explodisse numa panóplia de direcções incontroláveis, e tomasse destinos alheios à minha presença, mas que, no fundo, tem em mim a razão de existirem. E um feixe de luz do futuro segue a uma velocidade vertiginosa no sentido ascendente, quando, subitamente e sem razão que o sustente, se depara com um obstáculo, que sou eu, e colide fatalmente como passado. Vejo tudo, numa redoma de cristal que é totalmente independente e não sofre influências quer de um, quer do outro, e permanece intacta e inerte no vazio duma dimensão recurvada. Os espelhos, os espelhos descontrolam a minha percepção de tempo e a minha noção de lugar. Deixo de ser o barco que repousa calmamente no porto da eternidade e transformo-me no barco que vagueia de modo desgovernado pela enormidade oceânica das noções alteradas dum tempo e dum espaço imaginários, as cordas rebentaram, as águas debaixo do meu casco são outras, o espaço alargou-se e o vazio aumentou.... O tempo parou de correr, mas consigo visualiza-lo numa mudança brusca e irremediável, que continua continuamente num continuo continuar. Que faço agora, que não tenho onde ancorar o meu navio e o futuro e o passado seguem a uma velocidade incompreensível no sentido um do outro... As lágrimas rasgam-me rosto abaixo, vejo as imagens daquilo que amei, dos dias que vivi, do momento em que nasci e vejo a velhice, o perder das forças, o decair letárgico, a minha morte... Tudo acontece no mesmo nano segundo, o que é isto, onde estou, com estou,..... o que é o tempo, quando do tempo existe e quanto do tempo é o reflexo do medo que tenho da morte e da saudade que tenho da inocência, do despertar para a realidade, do ver e do escutar o mundo, do nascer e do partir. Não há respostas, não há volta a dar. O passado não consegue travar e o futuro avança sem parar. O choque é inevitável... Sou eu, a culpa é minha, sou eu clamando pelo fim dos meus dias, que nada mais são do que um novo inicio para o tempo e para o espaço. O eu agora e o após eu...

2 comentários:

sombra e luz disse...

interessantíssima a imagem...

quando as cordas rebentam, e as águas debaixo do seu casco são outras... é quando você fica e vai, quando é o ponto, o tal sem dimensão!... o que é e está, entre o passado e o futuro, você!...:)

Nem culpa, nem mérito!... Urgência...

Deliciosa vertigem... miragem, aragem... respire... que bom!...;)

Henrik disse...

'pensar é estar doente dos olhos'. por agora acho que fiz o que um bom português faz sempre: emigra, senão fisicamente, pelo menos mentalmente.