segunda-feira, novembro 03, 2008

A palavra que esconde a minha história

Empilham-se sentimentos na ponta dos dedos e uma estranha vontade de soltar as palavras que se encontram retidas na minha mente num tão longo período de tempo e o medo de cincar sopra-me com um carinho misterioso no pescoço, como se o simples acto de desejar a liberdade para o meu coração fosse o anátema para a minha existência no universo. Pianos de piedade são eximiamente dedilhados por alguém que escuto e cheiro, por alguém que consegue transfigurar-se em mim e ganhar uma imagem física limitada ao meu pensamento e de um peso imenso em tolerar o gelo começo a fraquejar, a recear cair no primeiro voo e as palavras já não estão benditas pelo livre conduto que representaria o caminho para a libertação e para o perpetuar no infinito das ideias. Esse infinito que quero e não consigo alcançar, ser uma ideia solta num pensamento, ressurgir na beleza duma palavra e renascer no universo dos conceitos, quero deixar para a humanidade aquilo que vivi, cada sentimento que experimentei, cada momento de mudez, cada dor ao acordar, cada chaga que o sol me provocou envoltas na inalcançável excelência duma palavra. Pena que não a encontre, talvez por não existir ou por não ter acesso ao dicionário que contemple todas as palavras que significam um sentimento ou uma panóplia deles, e que preencheriam os requisitos que procuro numa palavra para que esta se eternize como o diário da minha vida. Será que essa palavra não existe, neste momento, ou em outro momento qualquer no passado, quiçá no futuro, ou estarei a evita-la como sempre evitei as coisas que me faziam feliz em vez de as querer fervorosa e veementemente, para me proporcionarem uma continuidade de bem-estar, de paz e doutras realidade que afastei de mim por casmurrice. Pois, eu sei que recusei a luz, tive por ela uma relação de desconfiança, um medo incontido de gostar e querer mudar-me para a sua companhia, feliz, luminosa, alegre, meiga, branda, meu Deus, diferente do inferno que erigi para mim. E conheço a palavra, eu conheço a palavra que serve para contemplar num conceito só a história infeliz dos meus segundos de vida que, de tão amargos, se tornaram perpetuidade, conheço-a e emprego-a para situações que se afastam daquilo que realmente interessa, que nada mais é do que eu, sim, não me interesso por mim e sou um fraco por ser deste modo, um fraco que se esconde em barreiras bem sólidas constituídas essencialmente pelo medo. Agora concebo que o medo é um estético instrumento de estruturação que permite criar muralhas, torres e buracos, tudo com o objectivo de esconder-me e afastar-me da bela-luz, da alegria, do sorriso, da paz, de viver sem pensar que o meu mundo vai desaparecer, que vai ser lentamente destruído pelo invulgar poder da morte. Já sinto os entes queridos a desaparecerem, e as pessoas que existem no mesmo universo do que eu a apagarem-se, e tudo já começa a mudar e sofro, sofro, choro, chamo pelos tempos em que tudo era igual e queria que assim continuasse, desaparecem os amigos, as coisas materiais que adoro, as manifestações artísticas chegam a um limite de mau gosto que nem um cego consegue tolera-las e estou quase pronto para perecer e esperar pela decomposição para apagar com os vestígios deste anormal que viveu num mundo onde viviam homens, que, não obstante, eram iguais a si, e via ele nos homens o ódio, a raiva, a destruição, o egoísmo e a cobiça e sofria por ser homem, sofria e afastava-se cada vez mais do seu mundo. Os chamamentos do seu grupo ecoavam já distantes e o horizonte estreitava, como se o espaço físico do mundo se comprimisse, e comprimisse, até que o mundo passaria de lugar amplo a buraco exíguo. Agora, sim, agora consigo ser feliz na infelicidade, na dor e na solidão. Não há homens que não sejam eu próprio, não há vozes mentirosas e risos hipócritas, não há máquinas de destruição nem armas do holocausto, o dinheiro é um nada e o que ele pode comprar é tudo mais que nada e não há crises de qualquer espécie, só existo eu aqui, só importo eu a mim mesmo, só eu tenho-me a mim… O mundo lá fora não é relevante e não trará qualquer espécie de mudança à utopia que criei para mim, para o mundo dos sonhos que escrevi para mim, para este cárcere onde o eu consciente e o eu inconsciente trocamos ideias e roçamos o limiar da loucura quando o silêncio começa a afectar o nosso discernimento intelectual…. Céus…

1 comentário:

sombra e luz disse...

vim trazer-lhe um beijo, lobinho...
e lembrar que está na hora de atirar mais uma postazinha ao pessoal...;)