segunda-feira, setembro 01, 2008

O mundo curva-se aos meus pés em jeito de clemência e eu sei que gosto quando o manto de escuridão nocturna me traja de rei. Sou o césar dos fracos, que de mais fraco conseguiu o topo da hierarquia, um pouco sem querer, mas estima-me este lugar de destaque em relação a ninguém, uma vez que todos os outros estão acima de mim numa estranha escala que prevê um lado de positividade e outro que prevê a negatividade., e isso faz-me sonhar com a singularidade absoluta que só às sombras do universo é permitida. A beleza das palavras de alguém que fogem de mim a velocidades dos taquiões, hipoteticamente superiores à velocidade da luz, que criam requiem sustenidos a anjos que, de tão revoltados, tomaram a corajosa decisão de se verem livres das asas e vivem enjaulados em rochas a ferver que há momentos foram expelidas do profundamente quente centro da terra. É ver dias a receber a noite e noites a receber o dia, numa troca simpática de favores, que chega a ser dolorosa pela falta de criatividade e de renovação, só porque se sentem no direito de gozar de brincar com a luminosidade de aqueles que infortunadamente caíram neste mundo luminoso de para quedas. Não tenho paciência para esta troquinha benévola do ora agora brilho eu ora agora brilhas tu. Eu quero-os a ambos a abrasar no mesmo segundo, quero que uma energia descomunal penetre nas dermes dos ratos que caminham em duas pernas, quero sentir o cheiro a carne em combustão, enquanto regozijo sentado a boleia duma meteoro que passa. E as baleias a cantaram para mim, no dialecto que só nós somos capazes de entender, dor, sofrimento, falta de ar e náusea, como se a passagem pela vida se resumisse a vê-los arder como ardiam as bruxas e os judeus sob a égide dos tribunais medievais e pelo obsoleto santo oficio. Pergunto-me se consegues ver-me a viajar com os fotões e tens aquela estranha sensação de que fiquei imortalizado na tua retina e que o tempo parou para mim, mas eu trespasso-te efectivamente, sem que tu tenhas tempo sequer para respirar e já sou parte do quando percebes que é futuro. As mãos cobrem o rosto e agitam os cabelos que tombam sobre a minha testa, infecta e perniciosa, o sarcófago da minha doença o cerne da minha dor, tudo, onde tudo e nada estão errados, onde quero ser e desaparecer e voar ao sentido do vento cósmico carregado de radiação que alterará a minha composição até que restem meramente a cinzas quânticas do meu tempo aqui, no inferno dos corpos que não querem morrer.
Os tipos que assassinam as baleias estão ligados de corpo e alma ao demónio e são tão ingénuos e pequeninos que não foram capazes de perceber isso, o que está ao alcance de qualquer ser unicelular ou dum composto carbónico que ainda não descobriu que pode, de um momento para o outro viver. Eu vivo dentro delas e escuto o grito de sofrimento que emitem, leio-o, vivo-o e transformo-o em mensagem livre que ecoará por milhares de milhões de anos no universo, até ao momento em que o apelo se converte em cominação, numa tremendo desafio bélico à humanidade. Que caramba, afinal estou aqui, entre as quatro paredes que prendem a minha inconsciência. Posso libertá-la? Alguém é cortês e responde-me se posso efectivamente deixar-me apresar pela inconsciência e viver livremente como todos os outros quereriam viver.
Não há resposta, porque não há aqui vivalma, nem aqui nem em lado nenhum, aqui só existo eu a falar comigo próprio. Que perda de tempo.

1 comentário:

sombra e luz disse...

olá querido... como vai?... sou eu...;) estava sempre aqui, do seu lado... tecendo e torcendo...;)

saulus, meu bom amigo, entrei sem bater, e sem me veres...;) para não perturbar ainda mais o teu já tão agitado sono de menino homem perdido na terra dos sonhos do "nunca digas nunca", nunca!...;)

Bem sabes..;) que se parece que te deixo em silencio, ouvindo-te a ti próprio, é porque a resposta às tuas perguntas... virá de te escutares...;) de te encostares ao espelho... com o ouvido e de perscurtares na sombra e luz que ele ilusionadamente te devolve, fugazes reflexos de ti próprio, desse que realmente és e para sempre serás! mas nunca, nunca verás... o teu Eu, meu!...:)

Debruço-me sobre o teu leito e destapo-te o lençol até meio do peito, para respirares melhor... mas continuas febril... e os teus grandes e belos olhos cerrados estremecem a cada instante... por entre gemidos abafados... e palavras que entrecortadamente balbucias... deliras amigo...;)

Sonhas!...
Humedeço-te mais uma vez a testa e as frontes... a tua pele tão macia, tão vincada de rugas, tão inconstantes...
Ohh... ardes... inconsciente...em febre dormes vivo dentro do calor do teu corpo de homem, agora já feito...;) mas padeces infinitamente da consciencia da tua imensa finitude...;) Sofres!... mas e depois, que é que tem?!...

És finito, sim! Infinitamente...;)
Nada, vale tudo! Nem tudo, vale nada... meu bom amigo...;)
Tudo depende da escolha! e nada nos é garantido... aproveita a tua vez de jogar... claro que vais perder, mas olha só o que podes ganhar?...
É a sabedoria do desejo!... quente, bela, fresca e tenra...;)

saulus, grande saulus,

perante o qual, imóvel cavalgando desabridamente o seu cometa, no mar se curvam as baleias... e as sereias cantam ao luar... a saudade da alcateia deixada, lá atras, em terra...
diante do qual se sucedem alternadamente, sem graça nem mérito, nocturnos e diurnos pedaços de dia, dia a dia...
Saulus, grande saulus, quem és tu? quem queres tu ser?...:)

Enquanto aí jazes, neste teu quarto vazio cheio de ti, por mim continuo invisível e silenciosa a velar, este teu sono sem fim... pouso a minha mão na tua e sorrindo... sopro-te ao ouvido... através do vidro que nos separa...;) agitas-te ainda... mas as tuas palavras procuram o seu fio condutor... sente-se um vislumbre de voz, alguém lá ao fundo... começa a ouvir-se um discurso... o homem já quer falar... o autor, não tarda nada... deve estar aí a chegar...

Fico à escuta,
e pago para ver...;)
Vá...;) deixo-lhe um beijo...