terça-feira, julho 01, 2008

UNI_ MULTI

Está a começar repetidamente. Não quero, não mereço, não fui adequado para suportar ilusões contingentes, para deslindar os enigmas que se avultam do mais profundo da minha psique, o dom de inventar significados ténues para interrogações absurdas em caleidoscópio não consta da meu léxico de talentos, e sou confrontado com uma miríade delas quando, no silêncio do meu quarto, na agrura da minha divagação, o sono é a derradeira etapa. Esforço-me por acautelar estes momentos em que só existe um eu, uma fronteira escura e a cadência interligada de vários sons em desalinho, quando o sofrimento é avivado pela melancolia dum requiem destinado a alguém que viverá num futuro inatacável, alguém que padecerá de males do coração numa dimensão inversamente proporcional a esta em que nos movemos, e onde os acontecimentos escolhem atalhos que os cessam em epílogos próprios, sem conotação ou relação com os que se desfecham perante mim, que exploro, que me fazem subir ao infinito e explodir em ondas sonoras tocadas pela harpa de Deus, mas a melodia que decora a sua morte é-me tão facilmente audível, que chego a considerar que a dimensão longínquo e inversamente proporcional àquela que me tem é, na realidade, a mesma realidade que é inversamente oposta à realidade inversamente oposta, e ambas as realidades são a realidade no sentido cósmico da palavra. Os desfechos são diferentes, os intervenientes são outros, o enredo era exclusivo, e o protagonista é o mesmo, o solitário pensador que receia as questões obliquas que se acasalam perpendicularmente com a sua necessidade de um breve repouso. Alto, algo fez revivescer de vigor o coração que batia a um ritmo quase derradeiro. São novos sons, breves trechos conhecidos fundidos numa base sonora de outra dimensão, só pode ser algo do outro universo, porque o som é longínquo, distorcido, de tal maneira desigual que não o classificaria como tal, como som, muito menos como melodia, se os seus ornamentos não fossem as melodias intemporais que povoam os milénios de história humana, eu afirmaria que musical aquilo não seria. Estão ligados, emaranhados, bailando sobre as vibrações micro cósmicas que edificam o universo. É como se entrasse num carro e tomasse a via mais rápida para o outro lado do universo, para os antípodas da terra, um lugar onde pessoas existiram e legaram ao futuro conhecimentos de diferentes ordens, e que por acaso um deles é o saber da música. Que estranha semelhança com o meu lar, um legado de conhecimento deixado pelas gerações passadas no intuito de que as gerações futuras encontrem soluções para os problemas e contrariedades que os afectaram e para os quais não conseguiram encontrar soluções… Oh, mas vejo, também, que não estão a dar o melhor encaminhamento a essa panóplia quase infindável de conhecimentos produzida por aquelas gentes ancestrais. Estão, por sua vez, a troçar dela e a fazer tudo de uma maneira inteiramente diferente, meu Deus, obtêm prazer por contrariar a sabedoria ancestral, de tal forma que é quase uma coisa tangível o desprezo que sentem pelo passado. Olho para trás de mim, por cima do ombro, e vejo os nossos homens a fazerem exactamente a mesma coisa, com rigorosamente o mesmo prazer, como se um passado fosse um mero divertimento, um conhecimento que apenas serve para recreio, para alegrar a soirées dos intelectuais. Infelizes deles e infelizes de nós, que nos decidimos por atribuir importância e valorização a conjecturas que brotaram dum futuro completamente desconhecido, impossível de alcançar e cujo conhecimento que armazenou é nenhum e jamais trará soluções para o passado. Não quero ver mais, francamente, não consigo ver mais. As ondas sonoras estão a guiar-me num sentido totalmente diferente, longe da gente dos antípodas da terra, do outro extremo da galáxia, longe das gentes que existem ao virar do meu pescoço, e sinto que essa direcção é aquela que sempre quis, desde o inicio, que nada mais é do que o conforto quente e doentio da minha cama… Os dedos estão a encontrar barreiras à sua fluência. Eu quero dizer mas eles preferem em guardar o segredo. Perdoem-me

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