Luzes, milhões de pequenas luzes impedem-me de desfrutar da escuridão perfeita. Odeio as luzes. Malditas luzes que oscilam ao sabor dos movimentos irritantes da minha cabeça, que, na falta de consistência mental, vacila alarvemente de um lado para o outro, da esquerda para a direita, de cima para baixo. E tento auxiliá-la apoiando sobre a firmeza obsoleta duma cadeira ultrapassada. Olho para o infinito do meu interior, tão apinhado de sombras e escuridão que mal consigo discernir onde se escondem as minhas memórias e onde vive o meu medo, e as luzes exteriores que maldigo irrompem-me a minha retina sem que eu lhes houvesse dado permissão, e a amofinação de querer ver-me a mim a sofrer de um sofrimento azedo é dulcificado por luzes difusas e humedecidas que brilham para lá da janela que me expulsa do meu mundo. Que razão tenho para ter um momento de imaginação, que razão tenho para escutar os sons nebulosos que ecoam em meu redor, que razão tenho para acreditar que a minha vida é um sonho que se desenvolve no limiar do sono da morte. As noites aquecem de sofrimento, de angústia, de loucura, no âmago da minha solidão brilha um luz ténue e exânime, uma luz que talvez tivesse existido num tempo passado onde eu e eu éramos um só, com um objectivo comum, com esperança, com razões para acordar de manhã e levantar as mãos para o céu em jeito de agradecimento pelo grandioso sol que brilha ao renascer dum novo dia. Infelizmente, agora só sombras me contemplam pela manhã, sombras que destruíram o meu sono e que querem igualmente destruir o novo dia que acaba de nascer. O dia é um nado morto e eu acompanho-o na sua trágica demanda. Não há sol, não há um novo dia, não há luz. A luz é maldita e não deixa que sossegue, que aprecie cada segundo cáustico do meu isolamento.
segunda-feira, março 16, 2009
sexta-feira, março 13, 2009
quinta-feira, março 12, 2009
Prescindi de me servir de ti para salivar os nós cegos que se atam avidamente ao caminho das palavras. Sinto a tua falta e mesmo assim sou incapaz de te apelar quando mais nada nem ninguém está disponível para me ouvir. E dúvidas começam a suplantar as certezas, as forças nas pernas começam a fraquejar e o sistema nervoso contraria-se a si próprio. Tenho amontoados de linhas que mantive em cativeiro sem que disso tivesse beneficiado, quando o que queria era desmontá-las em pequenas palavras e envia-las a ti, que lês, relês e critica-las, e não te deixas subjugar à ganância e ao egoísmo do meu pensamento. Poderia descrever-te com todos os pormenores, úteis e inúteis, a sensação de esmagamento que tenho na cabeça, a dor que advém de não ter a mestria de verbalizar os sentimentos, as mãos tremulas que transmitem a insegurança e a vontade insana de apagar da memória estas malditas reacções que me diminuem perante os demais. O curioso é que eu nunca pedi os demais, mas eles permanecem junto a mim como que a lembrar-me do castigo que me inflijo por querer infligi-lo por mim. O meu cérebro perde tino a cada quilómetro temporal percorrido e eu assisto impávido à minha destruição, querendo umas vezes desaparecer intensamente ou ficando parado na minha doce apatia nas outras tantas que não consigo enumerar. É um inferno viver em nós mesmos, esquecer que somos um grande ente que vive em função da funções do todo, apagar as luzes para dissipar o pensamento, como se isso fosse viável, e rendermo-nos ao esquecimento dos químicos. A minha paciência, que até hoje tem sido quase divina, começa a manifestar a sua fraca humanidade. Fartei-me de estar farto de mim, fartei-me de mim e fartei-me de me fartar. Quero mais…. Quero mais monotonia.
sexta-feira, janeiro 23, 2009
Ando despojado de empenho de viver, a fraqueza é dona e senhora do meu corpo. Ando a leste do paraíso, a meio caminho da apatia, o sol põe-se a poente e não volta a nascer, ando sumido no medo incompreensível de cair numa rotina maldita e sofro por sofrer de mim mesmo, sem viabilizar as razões do meu medo ou o medo de ser de mim. A chuva continua a cair e o meu querer de deambular pelo mundo dos outros resume-se a uma necessidade de estar constantemente deitado, de mente e sentimentos vazios, voltado para o lado oco da minha própria existência, onde nem eu nem as imagens erradas da minha imaginação chegam a um acordo. Vivo assim, envolto na nostalgia das coisas que não vivi, carente dos sentimentos que nunca senti, à espera que a vida me oferte aquilo que nunca pedi. É mau demais, mas, de qualquer maneira, só consigo reconhecer o pior, como se ele e eu fossemos um só, destinados a caminhar de mãos dadas por caminhos em que o negro reveste as três dimensões que o meu físico pode sentir e às vezes tocar, já nem sei, nem sei sequer se são somente três as dimensões que o meu todo alcança. Isso é irrelevante. É tudo negro na mesma. Sou um cadáver vivo jogado a uma desinteressante sequência dos mesmos acontecimentos por si só desinteressantes, acamado no leito das agonias que não se manifestam de maneira a conseguir uma alforria e regressarem ao solo, ao profundo, ao centro da terra, ao local calmo e silencioso que serve de baú às agonias que surgem sem explicação. Dá-me um latejar no peito e na garganta, altera-se-me o ritmo cardíaco enquanto o coração conduz a orquestra duma morte prematura, talvez demasiado tardia tendo em conta o que o destino me reservou, mas continuo a fintar a morte sem saber muito bem o porquê ou o como, estranhando o momento em que adquiri esta arte curiosa, e a vida continua impávida e serena e eu embebido na minha agonia, fraqueza e nenhuma intenção de viver. Salvem-se, pelo menos, as melancolias e as nuvens, o cinzento, a densa neblina, as paredes húmidas do prédios e das estradas, o som continuo de água a correr, os limpa pára brisas dos carros e a insuportável corneta da morte, porque eu da vida já não espero mais nada… Resta-me a rotina, a dolorosa rotina de uma vida com paragem no suicídio, no suicídio dos sentimentos e das confusões, dos porquês e da vitimização, à espera que o meu corpo caia pesadamente no leito que me acomodará para o eternamente. Vivo para morrer, é isso.
sexta-feira, janeiro 09, 2009
quinta-feira, janeiro 01, 2009
quarta-feira, dezembro 31, 2008
Não sei se tenho frio ou calor. Nem sei sequer se existo para além das oscilações de temperatura que se fazem sentir aqui, no gelo, mas, no entanto, estou tomado duma certeza com a qual aprendi e continuo na aprendizagem de viver. O frio é a temperatura definitiva da minha alma. Teço fogueiras imaginárias dentro da minha imaginação, as quais são abundantemente regadas de combustíveis impossíveis, realizo diligências por lugares solarengos na imensidão do equador da minha vontade e o resultado é sempre o mesmo, frio, um resultado que não trás nada de novo à situação que condiciona a demanda e afundo-me, afunda-me. Era bom saber que havia escondida no mundo do reais a solução para a rigidez mórbida que deturpa a alma, que apesar de acompanhada por uma imaginação efervescente e activa não desvenda as forças fundamentais para que a fricção de sentimentos despolete numa chama, num simples e quente fogo que alteraria a temperatura que há em mim e dentro de mim. Toda a gente grita que no mundo a única coisa que permanece para além do ódio e dos sentimentos pestilentos da alma são a fraternidade e o conforto que sentimos quando vivemos os dias das nossas vidas com os nossos iguais, e isso é a verdade que me fere por ser a maior mentira que consigo e quero conceber. A distância dos meus pares, um pouco à semelhança do lobo que, por fraqueza, perdeu o lugar na alcateia e vagueia, só e dolente, numa demanda pela sobrevivência, é a caldeira do calor gelado que orienta a globalidade do meu ser, do despertar desalinhado, ao deitar aterrorizado. Que vida fui escolher, ou talvez tenha sido escolhida por mim para mim, que nem sequer consigo conceptualizar as temperaturas da forma que os outros as concebem, e aproveitam, e jubilam por ser tudo um inverso do meu desgosto setentrional. Sou eu é de mim a tundra das almas, sou eu e é de mim a taiga dos desolados. A minha débil alma emigrou para as bandas do norte e o meu corpo permanece no seu (in)feliz recanto onde são glorificados aqueles cuja a alma emana uma luz e um calor interior assinaláveis e lega à desgraça os filhos malditos que essa luz e esse calor negligentemente conceberam.
segunda-feira, dezembro 15, 2008
Lembro o dia em que o buraco desmoronou como lembrarei o dia em que o buraco que cavei voltou a fechar-se, e nesta sucessão de lembranças acordo para a verdade daquilo a que, com contemplações e falas meigas, me sujeitei sem clamor nem alteração. O ritmo de trabalho assemelha-se a um caminhar desajeitado de um aleijado, que por não saber andar, preferiu atirar-se a um rio e pelas águas sujas e malignas ser conduzido, sem contudo obliterar o caminho que, com dificuldade, foi traçando com o arrastar lento e pesado do seu corpo morto, que é morto desde o dia em que em lágrimas despertou para a vida. Nesse caminho há tempestades assustadoras e raios que se revoltam em variadíssimas direcções, e no fundo de um vale encoberto pela luminosidade de uma estrela que não é feita da mesma matéria de que são feitas as estrelas a que vulgarmente costumamos associar a luz que por elas é emitida, que no fundo pouco ou nada representam quando comparadas com a cerração a que o sol sujeita aqueles que da noite fazem dia e do dia um sarcófago para uma mentira, abre-se a possibilidade de deixar de cavar para cair num buraco feito por outros iguais aos outros, mas senhores de uma outra cobardia, a cobardia de descobrir se do lado de lá há alegria.
Tempos mortos estes em que a chuva cai em direcções incertas sobre uns ombros que carregaram fardos invisíveis, mas estranhamente penosos, tão enfadonhos quanto a monotonia pode ser enfadonha e o fado que uma estrela que deveria resplandecer pode doar-nos a nós, amantes duma obscuridade que não concebe outra situação que não a luz, mesmo quando das paredes escuras dum céu carimbado de estrelas se forma uma luz que não serve para iluminar. É isso que me entristece e me incentiva a continuar no cavar para uma posteridade na qual o reconhecimento será dado aos montes de areia que se formam aqui e ali e que em nada contribuem ou contribuirão para o reacender da chama das estrelas caprichosas e bandidas que acenam alarvemente, sem contudo atribuir aquilo que, por palavras mais sinceras, poderia representar um rasgo de felicidade. E a tristeza afunda-se em nós e o barco que é a nossa alma, que vigorosa - como o barco a que correspondia - navegava sobre as vagas de um sentimento soturno e desconhecido, perde o barqueiro lúcido que sabia que destino poderia hipoteticamente agradar à sua tripulação, tristes bandidos duma noite sem luz que, na amargura de uma amanhã que será exactamente igual ao amanhã que foi ontem, continuam na árdua tarefa de cavar o buraco que se abriu no dia em que, com lágrimas e pranto, despertaram para a vida. Deste lugar tolhido pelos antepassados dos homens que acreditavam na beleza de um futuro em que as estrelas não só iluminariam os caminhos do dia, mas também iluminariam os caminhos da noite, não quero recordação que sobreviva ao dia em que o corpo regressar ao buraco fechado que assim está na certeza de que esse corpo ao buraco volta porque da sua alma foi rendido. Infernizados sejam todos os que me venderam sonhos com defeito e futuros com alegrias em catadupa. As catadupas defeituosas de sonhos destruídos são a única recordação que ficou desse caminho amargurado que com o corpo pesado de uma aleijado percorri. Vou apagar as luzes falsas que me alumiam, para de seguida jogar-me ao buraco encerrado que jamais voltará a ser aberto a não ser por magia, uma magia que não conhece outra qualquer e que reside dispersa em bocados de papel apodrecido, e dos sonhos desfeitos, das estrelas manhosas, das verdades absolutas, das tempestades de raios, dos despertares em lágrimas para o pesadelo que foi uma vida libertar-me-ei para sempre.
quarta-feira, dezembro 10, 2008
terça-feira, dezembro 09, 2008
segunda-feira, dezembro 01, 2008
1893
Continuo a pensar em mim e em mais nada, continuo preso ao fascínio que tenho por mim mesmo, que me faz adorar os dilemas e problemas em que vivo e que não existem, e oculto-me sob o véu farto dum belo olhar que pouco mais percorre do que a distância entre a ida dos meus pensamentos até à retina e o caminho de volta às minhas idiotices. O meu cérebro é feito de poeira, que levanta à mínima agitação, ao mínimo movimento, transformando-se subitamente numa confusão que se centra sobre as confusões que o compõe a si mesmo. Não há Inverno nem Primavera que quebrem ou façam renascer ao folhas que se alimentam eternamente de ideias nos galhos da minha obsessão por mim mesmo, e os anjos das religiões pequenas continuam a ser os alvos preferenciais da culpabilização por o universo continuar circular em meu redor, pelas coisas pequenas e grandes manterem as suas órbitas no limiar daquilo que pode ser por mim processado através das experimentações pelos sentidos, quando nada disso acontece, é como se o meu peso e pesar obrigassem os espaços e os tempos a condescender e as realidades, os pensamentos, os sentimentos, as agitações, os receios, as peripécias e a vida das pessoas ficassem conglutinadas em mim, mesmo sabendo que incomodam profundamente, os seus sons, os seus movimentos, a sua afectuosidade, a sua paixão, o mundo em que vivem, e eu próprio, raios. O mundo, este onde eu e todos os outros existimos, uns com prazer, outros com ódio, dilacera-me de dentro para fora, debaixo para cima, faz-me querer parar de respirar a qualquer momento, rasgar a carne e sangrar até não poder mais e fenecer. Mas a cobardia, a maldita cobardia que proíbe que eu dê o passo seguinte, o medo de perder as pessoas, os sons, as agitações, os cheios, os sentimentos e a vida que tenho é maior do que a falta de vontade de permanecer neste lugar infernal que existe para que as pessoas penem por crimes que realizaram numa realidade e num tempo que só a Deus compete delimitar, um designío divino cheio de incongruência e falácias. Este lugar dos infelizes é cruel, doloroso, sombrio, mas é tão belo… o mundo que se construiu à minha volta e no qual eu, qual criança que brinca com os legos, fui colocando as minhas peças, este meu mundo é lindo e eu adoro-o, não o quer perder e amaldiçoo a morte por saber que um dia ela mo levará, mo roubará, mo tirará sem dor nem clemência, com prazer e satisfação, e vou ficar aqui assim, estendido, pasmado, a sofrer pelas pessoas, pelos sons e pelos sentimentos que o destino fez o favor de me roubar. Não, não mereço isso. O mundo tem que permanecer da maneira que é e que sempre foi, as pessoas que amo devem ficar para sempre ao meu lado, os sons que me agradam devem tocar suavemente nos momentos que eu assim o quiser, os pássaros devem vir cantar-me aos ouvidos assim que o sol se levantar, a ternura deve despoletar quando o caos agita e a morte não tem o direito de destrui-lo, o meu pequeno mundo que tão loucamente adoro.
Inevitavelmente, não tenho os poderes que os homens atribuíram, no seu receio pelo desconhecido, aos Deuses e por isso o mundo do meu ideal vai ruir e o meu egoísmo será ainda maior e casará com o desprezo, com o desencanto, e aí a maldita cobardia acabará por ceder e eu vou poder reconstrui-lo, tal qual como era, no mundo que será destinado aos homens que, por cobardia, não de morrer, mas de querer continuar a viver, estiver destinado… E aí partirei para a luz distante… partirei para a luz distante…
segunda-feira, novembro 24, 2008
segunda-feira, novembro 17, 2008
Estrela Furiosa

O som canaliza-se para mim, flúi paulatinamente entre a complexa estrutura atmosférica e esbarra no interior dos meus ouvidos, e no desenredar do ruído ouço o grito das estrelas a morrer. O som reentrou no meu corpo, mas desta vez está próximo demais do cérebro e consigo descodificá-lo, eu sei qual é o som dúbio que se apossou do meu frágil corpo, conheço as razões veladas a cada nota emitida, eu vivo no som e o som vive em mim, somos a simbiose imperfeita das leis do universo diminuídas a relação sonora entre um emissor e um receptor e dessa relação edifica-se um estranho rendilhado de tempo e espaço bem no centro do meu peito, e a reinar nesse tecido bordado pelas aranhas mágicas do universo antigo encontra-se uma estrela moribunda que está pronta a morrer. A sua fúria é ingovernável e o meu corpo é efémero demais para aguentar as forças que o seu descontentamento provocam, mas eu consigo tocar com a ponta dos dedos nos sentimentos mais profundos dessa estrela, que são largados latentemente sem que ela tenha consciência de que os liberta e eu toco-os, acaricio-os, beijo-os com os lábio e beijo-os com as palmas das mãos, e dentro desses sentimentos renegados emerge uma doce sensação de alívio, de paz, de serenidade da qual não me sinto nobre em receber. Porque é que esta estrela, mais submergida em fúria do que a areia coberta pela enchente do mar, liberta serenidade e comiseração no momento da sua morte? Porquê?
São expelidos rugidos que crescem e diminuem e voltam a crescer e a diminuir, e é impossível aguentar a violência desta oscilação estando tão perto do seu âmago, sendo o imo cósmico deste belo e pavoroso feito.Há raios de luz a serem emitidos em todas as direcções e eu próprio desempenho o lugar da estrela na hora da morte, que me escolheu de entre muitos para ser o escudo incerto da sua fúria e guardador da sua serenidade. Os raios trespassam-me e saem à velocidade da luz do meu peito e viajam rapidamente para outros lugares recônditos do universo, são libertadas as camadas exteriores da bomba estrelar, logo após ter-se inflacionado dentro de mim, comigo, inflacionamos os dois para que o caos não se tornasse na realidade da humanidade que é minha vizinha, felizmente para mim, que tenho nas mãos o poder para ver-me livre dela para a eternidade, porém não quero nem os acho com importância para sequer pensar na sua insignificante existência neste momento de loucura. Esqueço-os. As camadas, as camadas externas da estrela quebraram as algemas e partiram em debanda em direcção ao próximo canto que albergará a próxima nova estrela e o próximo novo conjunto de planetas ou a próxima nova nebulosa planetária. A minha estrela em fúria é agora uma super nova e eu sou uma super nova consigo e ambos brilharemos juntamente, mais e mais intensamente do que qualquer outra estrela, e no nosso centro há um acumular enigmático de matéria que se adensa tão rapidamente, tão ligeiramente que destruiu o cofre de sentimentos negros que eu mantinha lacrado no centro do peito, sentimentos que levei eras a amaldiçoar e que me amaldiçoaram posteriormente, a partir do momento em que saíram do coração para ocupar o vazio que existe na minha mente, e agora fundem-se com a matéria densa que ficou exposta no momento em que as camadas exteriores da estrela se projectaram para o infinito. A fusão ocorre, e a uma intensidade desconcertante, fundem-se, fundem-se, e a estrela voltou a fundir, mas desta vez não funde hidrogénio em hélio, nem hélio em carbono, nem carbono em oxigénio…. Está a fundir a matéria extremamente densa da estrela, o seu centro, com sentimentos excessivamente densos do cofre do meu coração e a densidade está a atingir o ponto critico, não há volta a dar… os raios de luz estão a encurvar-se e a voltar à esfera de matéria densa e sentimento negro, passam pelo seu interior, são sujeitos a uma incrível transformação e voltam a ser emitidos e são-no repletos em electromagnetismo, raios púrpura são emitidos dos raios que foram capturados… Mas que raios são estes, que foram sujeitos ao peso do centro denso da estrela e dos sentimentos negros que guardava piamente no cofre do meu coração? Que género de efeitos provocarão no tempo espaço e que consequências terão para o despoletar de novos acontecimentos cósmicos que até então pura e simplesmente não existiam… O casamento entre um buraco negro cósmico e um buraco negro humano. Olhem-nas, que em tempos foram as explosões de raios gama, já não são iguais, há nelas um peso, uma dor, uma angústia, um ódio pelo nascimento e pelo renascimento que ocorre a cada minuto no universo. Será… Serão estes os raios que, depois de cozinhados a altas temperaturas no centro duma estrela moribunda que preferiu morrer num interior dum homem moribundo, tomarão o lugar de cocheiros do coche maldito que trará o tão aguardado fim ao universo através da destruição da matéria conhecida e desconhecida, da total desregulação das forças que o sustentam, da consumição da luz…. Da eterna escuridão. -------------------------
segunda-feira, novembro 03, 2008
A palavra que esconde a minha história
segunda-feira, outubro 20, 2008
Nem sei bem quê
Canta para mim minha musa, grita o meu nome e vamos fugir os dois. Naquele sono perpétuo seremos um só, para o incessante, e dele crescerão folhas impressas com listas de cores e a cromática ferirá os olhos cujas íris não tiverem cor e a cor repudiará as íris que quiserem ter cor. É esse o destino dos nossos olhares entrecruzados, tempo, que na morte deixaram de o ser e eu vencer-te-ei porque jamais farás parte dos meus dilemas. E assim me fico e assim quero fica, sem pernas nem braços, sem asas e penas que produzam melodias obscuras e lagos gélidos. Não, não. Só há negação no meu espírito é tudo tão confuso, tudo tão inversamente inverso, atrozmente atroz. ……
quinta-feira, setembro 25, 2008
Diálogos com Deus

Uma obscuridade traçada em números num papel que se auto induz a conceitos enormemente precários, que nada mais são do que os convívios dos homens com a lei dos Deuses, palavras que foram aliviadas por gritos inaudíveis que se propagaram num vácuo que não concede propagação, mas as forças motrizes são tão veementes e incógnitas que as vozes dos Deuses recusam a permissão dos seus domínios para circular livremente e há sempre um homem de ouvidos apontados à comoção para descodificar essa linguagem intemporal e douta, duma erudição tão distante que os descodificadores jubilam ao ver uma estrela a vociferar em sinal de um ponto paragrafo, … ali termina uma interjeição de Deus, uma lei, um desabafo universal que às estrelas foi berrado e que às estrelas fez abdicar do seu ligar num lugar qualquer desenhado pelas mãos extensas das forças que procuro agarrar, amar e fundir-me em parte delas. Ai como é bela a pressão de milhões de toneladas em apenas um ponto no microscópico, é uma destruição que sentimos da ponta dos cabelos às células cimentadas da derme, no interior dos órgãos que formam o interno de todos nós e o limite é a eternidade em raios velozes e imparáveis, como Deus disse que seria quando a musica primeva encheu os salões do Seu reino.
Se pelo menos falasses directamente comigo e tivesses a sujeição de me explicar as nuances sombrias da tua linguagem, para que o nosso diálogo não se cingisse aos pensamentos que temo em divulgar. Queres que me tomem por louco por querer aceder-te. Eles não conhecem o poder de que és dono e todas as minhas tentativas para ter-te mais próximo de mim serão tomadas como desvios e psicoses, guiar-me-ão a um mundo onde parede almofadadas instituem um horizonte de eventos mais vazio do que a aproximação à dança catatónica dum buraco negro, é isso Deus, os buracos negros da Terra, aqueles cuja física não aceita nos seus paradigmas, é nesses que me vou acabar, à espera que me envies o sinal para o enlace final, mas garanto-me, Meu Pai Criador, não haverá nem houve e muito menos há coisa ou sensação que me possa preencher mais do que terminar-me em ti e reviver a minha vida passada num futuro maior, intemporal, onde as noções de dimensões espaciais e temporais deixam de fazer sentido e só as curvaturas dimensionais continuam, numa espécie de via ferroviária oculta pela escuridão húmida e ausente dum túnel longo. É no túnel que se inflama a nossa realidade, nas linhas incorpóreas que percorrem quilómetros e quilómetros de espaço até que o ser humano ignore termos e conceitos que facultem a compreensão da dimensão dos nossos reinos, e isso faz de nós algo maior do que um dogma, algo maior do que uma dúvida, algo maior do que uma singularidade… isso faz de nós os termos e as conjunturas que eles terão que desembrulhar num caminho continuado de decadência, dor, avanços e retrocessos, até ao momento em que o retrocesso impossibilitar o regresso e as suas construções, aquelas que com vaidade e insonolência não param de gabar, desapareçam do espaço a que chamavam universo e regressem a Ti, que nada mais és do que o seu engenheiro, desenhador e produtor.
Mas, Deus, como é que eu posso almejar tal sonho de entidade se nem da força gravitacional da terra, desta pequena e simpática terra, consigo libertar-me. Envia-me um furacão de energia, um feixe interminável e invisível de luz que esfarele a minha composição morbidamente tétrica, e assim poderei viver em partículas talhadas directamente por ti, quando nos tempos vagos te divertias a acender o rastilho de estrelas moribundas. Reclama-me novamente para ti, que seu teu em todos os sentidos. A humanidade que me concedeste através das reacções químicas estranhas que se desenrolam no meu corpo trouxe um defeito irreparável, que só me legou a sensação de exiguidade e o desencaixe a um mundo que não foi criado para a minha presença eterna. Eu vou vencer o tempo e os humanos não podem vencer o tempo, porque deixaste uma armadilha quase subtil no limiar das suas vidas, que os faz querer voltar a ser aquilo que foram, em sucessões sucessivas de repetições maçadoras e dilacerantes, e, quando assim não é, ficam outros eternamente ligados a eles chorando pelo seu regresso e pelo reinício do tempo em que tudo para eles iniciou. Eu não quero isso, jamais. Anatematizarei quem quiser aprisionar-me a esta terra com as cordas do sentimento, que impedem a progressão infinita até aos domínios do Criador. Por favor, jamais fareis isso por mim. A morte e o inferno resumiram-se ao período em que vivi com os homens, nos seus domínios, pequenos e atrofiadores, cheios de sentimentos pequenos de avareza, ganância, falso altruísmo e inveja. Esses elementos foram banidos do verdadeiro reino da verdade onde a verdade e a mentira se fundem para criar um estado de ser diferente, ausente, presente, quieto e irrequieto, onde tudo pode ser o que nada é e nada pode ser tudo o que é.
Vamos, não te quero maçar com pedidos, o tempo há-de vir e a felicidade, que desconheço mas que amo, por ver nela o inatacável do ser humano, preencher-me-á para a grande eternidade.
quinta-feira, setembro 18, 2008
Explosão

As mudanças subitamente deixaram de ocorrer e os movimentos descoordenadamente harmoniosos dos humanos nos seus formigueiros tornaram-se maneáveis, pardacentos, acabando por cessar e silenciar, e só eu me movimento, só eu consigo agitar as pernas com vontade de correr e a imagem do horizonte não afunila, permanece parada, as minhas pernas esforçam-se por dar ao meu corpo movimento, mas é tudo uma repetição aborrecida do ontem, do anteontem, do século passado, do eternamente para trás, até ao instante em que um Deus satírico e algoz deu à Luz uma bolha que cresceu e que deu à luz a Luz e que deu à luz o sol e que deu à luz a terra, que deu à luz a estagnação dos filhos que não deu à luz por saber de antemão que a inépcia de voltar a dar à luz atormentá-los-ia até ao fim da sua existência. Pois é, a eles foi jarretada a arte de dar à luz e isso fere-os e eles procuram quebrar o feitiço, contornar o destino, mas é do fado a arte de contornar e não daqueles que não podem dar à luz, dos não eleitos que fustigam o próprio corpo em nome da infertilidade.
Que mundo, Deus satírico e contemplador, que mundo feio que tiveste em pensamento quando optaste por deixar eclodir a bolha que seria o destino desse mesmo mundo, que maldade, que castigo, tu nunca tiveste o céu para dar porque limitaste-te a criar um inferno para onde reconduzes vermes que terão te aborrecido algures num momento e num espaço que só a ti fará sentido e só em ti será reconhecido, e os homens nem sequer aceitam que limitaste a sua existência à pequenez desse inferno que a determinados momentos deixa rever situações que foram nele em algum momento da sua existência prolongada aos olhos dos pequenos e tão curta aos teus olhos. Começo a perceber-te como perceberam os homens que viram em ti o único e verdadeiro deus, sem nunca alcançar a tua verdadeira forma, eu sei, mas mesmo assim consigo sentir no coração deles o medo e o receio que sentiam por sequer dizer o teu nome em vão, se o castigo era a loucura a que os sujeitaste e que agora sujeitas a mim. Leva-me para junto de ti, onde as estrelas não são estrelas e as galáxias não são galáxia, onde a luz não é luz e o que é não é. Peço-te, permite-me acompanhar-te naquele primeiro instante em que revelaste a tua verdadeira face, antes de te ocultares para sempre nas enigmáticas fórmulas que não conseguem chegar até ti. Eu estou contigo aqui, nesse momento e vejo-te tão bem como vejo o ecrã da máquina dos homens que me apoia na queda para o abismo, e clamo pelo teu nome para que possamos explodir os dois, sabendo que o amanhã era o ontem em que tu mesmo foste gerado. Vamos, que o meu corpo é susceptível à maldade e às armadilhas que deixaste no inferno em forma de bolha…. É agora………………………….
terça-feira, setembro 09, 2008
Labirinto

Queria sinceramente que houvesse alguém com o condão de me tirar daqui, com a calma com que se ensina um faminto a pescar, recuso uma saída brusca, violenta e não me sinto em condições, nem à altura, de esbarrar com um mundo que me é estranho e confuso, mas que é aquilo que quero, a amnésia para a minha loucura e o caminho silencioso que abre, lá no fim, para uma imensidão de luz.
Mas continuo a imaginar situações bonitas que mudariam o meu estado de alma caso eu tivesse a força motivadora, a vontade firme e o desejo real de sair daqui, e, de facto, é tudo apenas uma das inúmeras mentiras que tento vender a mim próprio. Ninguém percebe, ninguém vê, eu continuo a ser e a existir no mesmo mundo em que existem as pessoas, mas a minha imagem, aquela que é reflectida pelos meus olhos, é totalmente desfocada em pensamento cuja origem desconheço mas que acredito provirem de algum mal de ordem mental, um mal que teimo em não querer assumir e que alimento no fluir da minha continuidade temporal, vivo e consciente.
E depois surgem as interrogações…. Se eu fosse de outra maneira, continuaria a encontrar forças para resistir, continuaria a apreciar as coisas grandiosamente insignificantes do ser humano, da terra, do sistema solar, da via láctea e do universo em geral? Teria disposição ou auto motivação para contemplar situações que em grande parte carecem duma profunda solidão para serem vivenciadas em todo o seu esplendor?
Peso nos olhos, peso nos olhos, pouca fluência de ideias, lobos cerebrais em quase dormência… erros
terça-feira, setembro 02, 2008
As duas existem e estão aqui, silenciosamente contemplativas

Já não há luz no fundo da vida, sabias? A tua recusa permanente em combater as entidades escuras que te bajulavam afastou a luz, levou-a à exaustão definitiva, e quando lá chegares nem mesmos os olhos, que gabas serem os melhores de entre os animais noctívagos, valer-te-ão quando a boca da morte estiver aberta para ti, nos silenciosos últimos momentos em que o suor brota dos poros da derme a um ritmo metabolicamente executado. A miséria ve-me a dançar com as nuvens e inveja-me por ser eu um dos detentores do fluido divino que escorreu naqueles dias antigos em que os homens apedrejavam aqueles que pelos quais sempre haviam clamado em nome duma salvação egocêntrica e invejosa. Numa única noite banhei-me nele e dele ganhei a luz que cruza o universo à velocidade dela mesma, e não a velocidade de quem a quis prender em teoremas e fórmulas pequenas do intelecto humano. Eu dancei com a luz e os nossos pés chapinavam naquele sangue que vivia de aura distante e poderosa. A nossa dança prolongou-se até que os planetas dispersos se unissem sob a égide de um rei absoluto, intolerante e punitivo. Esse rei que, de guloso, quer morrer e da morte quer o fim dos seus mais próximos, num acto de petulância sem igual, pelo menos para ti, que és homem e não tens o dom de ditar sobre os ditados de ninguém. O que eras agora é apenas um antes que é para ti. Vale a pena um sacrifício tão ímpio e imoral levado a cabo por um impuro e pérfido ser humano. O mundo está quase completo na sua aparência disforme e só tu pensas conseguir vislumbrar por de entre as brumas que os acasos deixaram calmamente para ti, para tua confusão e para o nosso desespero, e o nosso novo amor ressente-se das estocadas frias que imprimiste aquando da tua irracionalidade psicótica, quando as trompas dos guerreiros medi orientais soaram do alto da duna que planeavas conquistar para ti, para teu próprio recreio, como se a duna quisesse responder e submeter-se aos teus singelos caprichos de criança sem futuro, sem arte, sem alma, sem vontade de viver, de vida de pernas para o ar, num caminhar em constante desavesso. Bonito, que bonito é ver o monte deserto a ser bordado com chamas e raios de sol, dum sol que ganha cor a cada disparo incógnito vindo do limiar do horizonte, local onde em tempos querias erguer um castelo, que nada mais era do que a tua câmara de torturas, porque eu sei, sei aquilo que tu sabes e finges esquecer… Eu sei que o teu sonho era destruir o sol, seres o seu algoz como ele sempre o foi para ti, cantando aqui e ali aquele som quase mudo ao qual te tornaste intolerante.
O veneno sobe lentamente às reacções eléctricas cerebrais e sentes-te afectado pelos seus efeitos, que não raras vezes dizes ser a melhor coisa que experimentaste nesta terra, que para ti não é novidade, que é e será sempre o teu reino, já que existes desde tempos imemoriais e continuarás a existir até tempos imemoriais, quando o sol e a terra forem meras memórias dum homem imemorial.
Perdoa-me se te maço, mas estar dentro da tua cabeça exige-me imensa interpelação, questões afloram das incongruências inconsistentes e doentes que montaram acampamento dentro de ti. Continuo a divagar nessa mente em dia de furacão.
segunda-feira, setembro 01, 2008
Os tipos que assassinam as baleias estão ligados de corpo e alma ao demónio e são tão ingénuos e pequeninos que não foram capazes de perceber isso, o que está ao alcance de qualquer ser unicelular ou dum composto carbónico que ainda não descobriu que pode, de um momento para o outro viver. Eu vivo dentro delas e escuto o grito de sofrimento que emitem, leio-o, vivo-o e transformo-o em mensagem livre que ecoará por milhares de milhões de anos no universo, até ao momento em que o apelo se converte em cominação, numa tremendo desafio bélico à humanidade. Que caramba, afinal estou aqui, entre as quatro paredes que prendem a minha inconsciência. Posso libertá-la? Alguém é cortês e responde-me se posso efectivamente deixar-me apresar pela inconsciência e viver livremente como todos os outros quereriam viver.
Não há resposta, porque não há aqui vivalma, nem aqui nem em lado nenhum, aqui só existo eu a falar comigo próprio. Que perda de tempo.